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Black Mirror By Paulo





Episodio 1x1 - Nota 9.5 2016-11-21 01:13:44

É impossível terminar de assistir esse episódio e não ficar reflexivo e atônito com tantos oceanos de críticas construtivas sobre a sociedade. E o que mais me deixa fascinado acerca de tudo isso é título do capítulo que se sustenta brilhantemente numa correlação existente entre a sociedade pós-moderna, entrelaçada no uso e no conceito da mídia e da tecnologia. Isso se nós consideramos a globalização em si como um agente avassalador que tudo permite. Noticiários, troca de mensagens, nuvem de arquivos, publicidades, até aviões supersônicos, tudo isso graças ao advento da tecnologia como pilar das transformações. Temos que ter em mente que a tecnologia transforma, mas não podemos dizer que ela que degrada, isso não é o seu propósito natural, o homem é o responsável por usá-la da pior forma.

The National Anthem me deixou devastado até o final, me fez ficar pensativo, me fez parar o capítulo algumas vezes para tentar respirar e mastigar o conteúdo tão agressivo, claro e objetivo. Com um capítulo como esse, o indivíduo que está frente a tela fica perturbado, tão claramente angustiado como inconfortável com tanto despejo de realidade sobre as camadas da sociedade numa crítica artística do interesse humano no supérfluo. É interessante atentar-se como as pessoas ficam chocadas e ao mesmo tempo fascinadas com as imagens, a repercussão, a excitação, mas não deixam de assistir e compartilhar. Elas não param por um momento para pensar naquilo que realmente é mais delicado. Sedentas por algo que lhe faça sorrir ou interagir, compartilhar ou degradar, as pessoas transformam uma notícia num hino nacional, onde saúdam, propagam, e com fôlego no peito, clamam a tragédia. O Primeiro Ministro é hino nacional de todos eles, um momento a ser 'proclamado', mas que ironicamente, é convertido em espetáculo.

O que mais me deixa sensibilizado sobre o capítulo não é sobre a tecnologia, a tecnologia pode estar inerte ao ser humano, mas eu fico intricado mesmo nas reações frias e vazias das pessoas, aspecto que constrói todo o bottom-line da história, inclusive, se faz presente todo o pensamento volátil destas, e como já relatado em vários comentários abaixo, pode se perceber também toda uma transmutação do senso moral do público que é receptor da notícia e que ao mesmo tempo, denigre, transforma, molda e reage. O ser humano é capaz de diversas coisas, sentir diversas emoções ao mesmo, e eu acho que com base nesse capítulo fica travado essa ideia de que quem conta um conto conta um ponto. Sempre que algum assunto fica em evidência logo várias versões começam a aparecer e tomar grandes proporções. Temos a mania de enfatizar ou não dar tanta importância com a veracidade das coisas ou muitas vezes não nos importamos em manter ao pé da letra o que nos contaram. Esta mania é ruim e por muitas vezes tira o sentido das coisas, e tanto no mundo real quanto no midiático acontece esse tipo de problemática.

O que fica claro então portanto neste primeiro capítulo de Black Mirrror é o caráter humano sendo desnudado, e como uma manta deitada nos ombros sendo retirada, é mostrado o que há de feio e desagradável por debaixo da camada. Nós vivemos numa sociedade pós-moderna, atropelada pelo imediatismo, pela imagem, quase sempre falsa, que as pessoas tentam apresentar nas redes sociais. Isso é meramente um reflexo e uma síntese de tudo o que ocorreu aqui. Todos nós somos atraídos por miseráveis aspectos supérfluos, e da mesma forma como a população estava claramente mais preocupada em presenciar o ato censurável do primeiro ministro com o porco do que com a segurança da princesa, em nossa sociedade atual poderia acontecer o mesmo.

O sujeito que se suicidou é uma releitura de que num mundo tão repugnante, uma vida é inútil, é sem sentido viver em um mundo onde as pessoas gostam da humilhação dos outros, onde as pessoas condenam um ato que eles próprios, hipócritas, gostam de ver. Basta ver como o arquiteto da situação libertou a princesa trinta minutos antes do limite de tempo, sabendo que ninguém iria notar porque eles estavam todos se divertindo. É degradante. Jane, no final, aparentemente expressando amargura delineada em seus gestos e olhares sob o marido, representa um fragmento desta consequência não intencional, não deliberal. Ela representa o fruto desta fatalidade, o dano que foi lhe recocheteado, e, querendo ou não, ela assim como ele, sempre serão lembrados e expressados da pior maneira. Termino aqui dizendo que o ser humano é uma caixa de pandora, às vezes aparentamos ser belos e inocentes, mas essencialmente, sempre podemos nos provar como fontes de calamidades.

Episodio 1x2 - Nota 8.5 2016-11-23 01:03:40

Está cada vez mais evidente, como nós, em percurso da evolução humana, da mídia e da tecnologia, estamos sempre presos nessa caixa de mesmo formato, tamanho, curvas e cores. Num processo tão significativo da história do homem, tanto quanto como objeto de máquina, quanto no conceito intelectual, a sociedade está evoluindo tanto quanto na mesma medida que estamos regredindo. Estamos cada vez mais perdendo o contato sensorial, a essência de ser humano afinal. Estamos, drasticamente e gradativamente, perdendo nosso senso moral e crítico, e dando cada vez lugar as comodidades, aos prazeres consumistas e determinantes que são intransponivelmente efêmeros, alimentando essa esfera capitalista atual que é o maior predador dessa cadeia alimentar. Estamos, cada vez mais, perdendo nossa voz, nossa imposição, nós mesmos.

Este capítulo aborda a mídia tanto quanto a hipocrisia do pensamento humano, além da tecnologia. Tecnologia porque, tendo como base as palavras que eu mencionei no capítulo anterior, os aparatos que são criados não são feitos com a finalidade de destruírem, quem acaba realmente destruindo é seu criador. Em sua forma como ele direciona, como ele maneja, o ser humano dotado de conhecimento vasto é o agente que tudo destrói, a tecnologia apenas surge como advento que transforma, melhora, que permite novas dimensões, propõe novos horizontes, expande as limitações. O homem em seu papel é o único que nas mãos, reside a culpa da modificação. Se a tecnologia é subsequente do conhecimento, e se o conhecimento aprimorado vem com os anos através das experiências, experiências estas que vem com respostas e diz ao homem os perigos e resultados negativos da não sustentabilidade ou da não preservação do percurso natural das coisas, da natureza, de tudo aquilo a que nos pertence, então por que o homem a degrada? Oras, afinal, por que o homem inconsciente ou conscientemente destrói? É tão utópico que eu honestamente não sei responder.

No começo do capítulo já podemos pressupor que Bing vive num universo distópico e que certamente naquele estágio, o planeta estava acabado pela ação antrópica. Eu vejo que independente de um futuro de grandes inovações, o homem destrói naturalmente, não porque é regra, mas pelo prazer de proporcionar prazer a si mesmo ou pela comodidade que nós é adquirida, ou pela irresponsabilidade inerte àquilo que temos. Bing vive num mundo distópico mascarado pela ruína, ao contrário, ele não estaria alí pedalando milhas e mais milhas. Todos os dias, todas as horas, entre idas e vidas, consciente ou inconscientemente, temos parcela nesse peso de extermínio (tanto cultural ou físico) em pequena ou em larga escala. Tecnologia pode estar associado ao ser humano e, embora neste segundo capítulo isso tenha ficado na camada abaixo da real crítica feita, ainda, para mim, não deixa de ser um questionamento válido. Bing e seu espaço alí é uma crível representação dessa necessidade de modificação e readaptação, pressionado pelo processo de destruição em todos os níveis. É, na verdade, uma forma de ver a essencialidade e o contraste do que era belo, natural e real, e o superficial, o objeto modificado, o sem brilho, e o sem graça - na qual resume o novo mundo de Bing. É homem versus natureza. Como Lavall apontou com maestria, é um retrato do futuro próximo ou um retrato da nossa atualidade?

No que tange acerca da mídia e da hipocrisia, o capítulo fez isso sem sutilezas e foi direto ao ponto, o que me faz cada vez mais ver como essa série é tão poderosa por fazer uma auto-crítica a si. Num mundo tão globalizado, os processos midiáticos são facilitados pela quebra de fronteiras já não mais existentes. Em nosso dia a dia, nosso contato com a mídia é tão constante que não se damos conta. Na internet, vemos manchetes, na TV, amenidades para passar o tempo, no celular, aplicativos que sugam nossa distração, até um panfleto recheado de produtos e serviços, esse capítulo nos faz sugerir que enquanto o poder da mídia residir em todos eles, seremos sempre manipulados com seus discursos provocativos, atrativos, porém, sempre escondendo uma grande fatalidade: a falsa imagem, um discurso barato, uma lábia doce mascarada pela acidez, uma mentira camuflada. Bing trás esse pensamento fundamento na hipocrisia do ser humano e na propensão volátil do mesmo mudar de pensamento de forma constante, aspecto que até comentei no capítulo anterior. Sua fraqueza se ratifica a partir do momento que vemos ele criticar um meio corruptivo que ele acaba fazendo parte. Ele diz, "Foda-se esse sistema", mas Bing eventualmente é sugado por essa catástrofe. Estamos tão programados a seguir padrões que não reagimos a esse vórtice, principalmente se estivermos lucrando com a situação.

Fica claro que nossa sociedade, nossas vidas, nosso mundo, é um reflexo dessa problemática de Bing. Criticamos um sistema injusto e opressor, mas quando somos convidados a fazer parte dele e desfrutar de suas vantagens, então isso já não parece mais como era antes. Criticamos a vida do próximo, mas não vemos que podemos estar presos a uma vida tão falsa quanto. Somos doutrinados pela mídia corporativa que alimenta e que sabe dos nossos desejos, mas não se damos conta do quanto ela nos domina. Podemos resistir, mas há sempre uma tentação que nos faz ir longe. Bing trocou sua antiga vida por mobílias luxuosas, celulares turbinados, e um espaço maior, mas nada mudou nele, ele apenas se tornou hipócrita. Da mesma forma ocorre conosco, vivemos numa caixa tecnológica, onde a publicidade invade nossas mentes e nos obriga a comprar coisas que realmente não precisamos. Eu vejo que a pior parte disso tudo é que vamos assistir essa série e compilar com tudo e depois continuar a não fazer nada para mudar o nosso meio em que vivemos. Infelizmente, a tragédia nos comove, mas a fim da verdade, não movemos um dedo em prol da mudança. Nossa vida é assim. Trabalhamos e 'pedalamos' incansavelmente para manter um sistema que nos mata, mas isso não importa se também tiramos proveito dela. Querendo ou não, com princípios ou não, sempre seremos parte do sistema.

Episodio 1x3 - Nota 8.5 2016-11-27 12:24:14

Não tão diferente dos capítulos anteriores, esse é totalmente perturbador ao extremo. Às vezes, as melhores respostas são as próprias perguntas que fazemos a nós mesmos. Enquanto não indagarmos, procurarmos as perguntas corretas para encher as lacunas vazias, nunca iremos ter senso critico do que acontece ao nosso redor, das catástrofes que assolam o mundo afora, da mídia e da tecnologia que estão cada vez mais inertes ao ser humano. Enquanto não explorarmos as possibilidades, nunca faremos a diferença. Como será o futuro daqui a cem anos? Será possível os seres humanos estarem preparados para viver numa sociedade onde tudo pode ser visto e onde mentir é quase impossível? Essas são as perguntas que esse capítulo trabalhou.

Usando o relacionamento entre duas pessoas como a argamassa para sustentar a crítica, esse terceiro capítulo de Black Mirror aborda o avanço da tecnologia e a privacidade individual. Ele, contra todas as críticas que já fiz sobre os adventos tecnológicos serem benignos, me mostra uma visão completamente diferentemente acerca desse tema. Ele diz que querendo ou não, a tecnologia que está lado a lado conosco desde o momento que acordamos, pode nos afetar de forma direta ou indiretamente. O que seria de um futuro onde fosse possível termos acesso a várias passagens de nossa vida? Um banco de dados ou uma galeria preenchido com vários momentos que nos definem, datando os meus erros, infidelidades, coisas terríveis que aconteceram, insultos e corrupções daquilo na qual fizemos parte um dia? Memórias são fragmentos únicos do homem com essência na emoção e na sensação de um momento. Eles podem ser tanto gloriosos quanto traumáticos, às vezes, lembrar daquilo que nos faz sorrir e que exalam alegria é uma tarefa que nos faz sentir bem, outras vezes, uma memória perturbadora ou uma experiência traumática, quando o peso da consciência não vem, ela tem apenas o propósito de nos magoar, de nos ferir. Se somos testemunhas daquilo que nos mesmos fazemos, imagina se fosse possível outro mais além de nos ter acesso a isso?

Num mundo atual em que vivemos, já vivemos nesse real reflexo dessa problemática. Utilizando senhas, só eu tenho acesso ao meu android, tablet ou computador. Neles, minhas conversas e arquivos estão registrados e gravados. Fotos e vídeos compõem parte da minha memória, e essas minhas memórias só eu posso mostrar pra quem eu quiser ou simplesmente privá-las para que somente eu veja. Estamos tão atrelados na tecnologia que nem sequer se damos conta do quanto estamos. Se encontramos alguém desconexo dessa realidade que não é adepta de Facebook, Instagram ou Twitter, desconhecemos aquilo e se perguntamos como isso é possível. Hoje em dia é regra fazer parte dessa sociedade que se diz tão moderna, porém, infelizmente, tão manipuladora que nos faz de refém de forma constante. Estamos cada vez mais aí evoluindo, parece que ter controle sobre nossas próprias memórias, daquilo que a gente vê e compartilha, como um simples botão que a gente aperta, fica tudo registrado, dá play, volta e retrocede, parece tudo numa boa. Rever momentos únicos soam ser impagáveis, mas há memórias que, convenhamos, nunca merecem ser recordadas. Se já nos achamos donos da verdade, daquilo que nos é conveniente, imagina num universo onde tudo fosse gravado? Tecnologia transforma, mas também piora a situação. É melhor torcermos para ficarmos onde estamos, torcermos para que não cheguemos a tal ponto, ou, no melhor das hipóteses, para que tornemos pessoas melhores e de consciência. É melhor buscarmos o que real, o agora, e não memórias que nos magoe. É melhor ansiar pela mudança.

Episodio 2x1 - Nota 9 2016-12-08 11:53:13

Esse capítulo é emocional, talvez até o que mais trouxe carga melancólica e dramática de Black Mirror. Eu interpreto ele de diversas formas, que vão desde a criação de laços, processos de luto, até a imperfeição, e a capacidade das corporações multinacionais lucrarem a partir da perda e das dores das pessoas. Quando perdemos alguém tão íntimo, ficamos desolados, cabisbaixos, imersos no impacto da perda, mergulhando nas possibilidades do que poderia ter feito com aquela pessoa ou que teria feito de diferente para evitar aquilo. Em certas parcelas, às vezes nos culpamos, e o luto, como processo natural, é uma reação da condição humana, uma fase de reflexão para processar a perda, pois morte é a única certeza de nossas vidas, certeza esta que vem da constatação da finitude da vida. Quando perdemos alguém, parte de nós se vai, sentimos incompletos e a vida é como navio preso ao cabo da nau. É difícil superar, é difícil seguir em frente, é duro desapegar.

É por isso que, quando eu vejo essa experiência da Martha eu a interpreto em quatro fases: perda, rejeição, imperfeição, e luto eterno. Martha perde o Ash e um buraco emocional no interior dela é aberto. Ela se nega a todo tempo, a dor de perder o seu amado atravessa-lhe o peito, e ela se sente devastada, o que é normal para quem passa por isso. Num futuro distópico como aquele, como aparentemente é em todos os capítulos de Black Mirror, a tecnologia é um aliado, mas ao passo disso, é também um componente supérfluo. O maior bottom-line deste capítulo é justamente mostrar como somos insubstituíveis, como até a tecnologia detentora de gigantescas possibilidades é incapaz de criar o real, o natural, como através dela não é possível criar as emoções e os sentimentos humanos genuínos, como não é possível trazer de volta completamente aquela pessoa que você amou, como não há como trazer de volta aquela parte de você que te completa pelo o que foi. Essa releitura nos leva a crer que o que aparentemente é perfeito, é essencialmente imperfeito, explicitamente como quando vemos Martha brigar com o Ash, buscando por um ser humano mais real, que a faça sentir ignorada. Esta é a parte da imperfeição onde o real nunca será alcançado.

Em certo ponto do capítulo, Ash antes de morrer afirma que quando Jack e seu pai morreram a mãe dele colocou as fotos e as coisas deles no sótão porque aquilo foi uma forma de lidar com a perda. Quando somos introduzidos ao final, presenciamos Martha passar pelo mesmo processo. Ela pode ter aceitado a morte dele, mas inevitavelmente ela irá ficar presa às antigas memórias deles juntos. O fato dele estar ainda alí, mesmo que metaforicamente signifique as lembranças, as fotos, videos, e objetos de nossos entes queridos, me faz ver que ela ainda está suscetível a sofrer por ele ser um lembrete não tão distante, mesmo que imperfeito, daquilo que ela perdeu. Eu vejo que, por envolver a filha junto a isso, ambas sempre estarão presas e vivendo com algo irreal, presas, num eventualmente lembrete vazio de dor e incertezas. Há, também, uma releitura do Ash ser uma pessoa que vive para a tecnologia, um retrato daquilo na qual estamos presos rotineiramente, capitulando a outra crítica do capítulo. Be Right Back é um capítulo tão intenso como qualquer outro da série, perturbador, angustiante, emocional e que levanta perguntas pertinentes sobre nós, como seres humanos, seriamos capazes de lidar com uma perda e o que faríamos para lidá-la. Em suma, se tivesse uma oportunidade de rever um ente querido, não faríamos o mesmo?

Episodio 2x2 - Nota 10 2016-12-08 18:38:44

Muitas vezes, gostamos de criticar um defeito alheio, uma postura errada, um insulto dito, um gosto pessoal. Essa natural reação do ser humano criticar o outro desnuda a hipocrisia escondida no interior dele. É da natureza humana encontrar tamanha facilidade de criticar o próximo, entretanto, para quem está vivenciando uma situação conflitante, definitivamente não é algo simples. É incrível vermos o homem mudar sua ampulheta do julgamento e da sensibilidade de forma tão fácil, essa habilidade constante minha e sua de termos um pensamento volátil sobre as coisas que nos cercam, que nos ocorre, que inflige os outros. Hoje em dia, com a globalização em larga escala numa avalanche constante de notícias e fofocas, é difícil não vivermos num cenário onde a informação é parte de nosso sistema, do nosso dia a dia. Não me refiro a uma informação de caráter construtivo, mas uma, regida no valor vago e supérfluo que preenche nossas necessidades, estas, formuladas pela tragédia humana.

Não provavelmente, mas certamente, todas as pessoas que chegaram ao termino do capítulo tiveram um pesamento diferente sobre Debra ter ou não merecido sua forma de tortura. Esse é o propósito do capítulo, e é incrível como nossa ampulheta do julgamento e da sensibilidade pode tomar ângulos contrários. Simplesmente, não há nada de errado vemos ela como uma criminosa, aliás, com a reviravolta que chocou a todos, ela se provou ser alguém capaz de fazer aquilo com a garota. Ela, a princípio, ganhou nossa simpatia e nossa esperança em se sair livre daquela situação de perseguição, tortura e confusão psicológica, mas todos nós se vimos em certo ponto questionando se ela merecia ou não aquilo pela qual estava passando. É por isso que é incrível como a hipocrisia rege a compostura de todos os espectadores que estavam se deliciando do espetáculo de tortura da Debra, inclusive, a estrutura desta crítica é basicamente a mesma do piloto da série, como as fraquezas e as fatalidades do homem são convertidas ou em algo ridicularizado que merece ser compartilhado ou em um palco de prazeres. Todos os que estavam fotografando, filmando, parados alí, imóveis, porém rindo, são aqueles que subjugaram ela pelo o crime que ela cometeu, mas no mesmo instante, essas são aquelas mesmas pessoas que fizeram o mesmo com ela. É inegável o crime que Debra cometeu, porém, ela merece um julgamento nas medidas cabíveis, e não torturada como uma animal irracional. Creio que, crime não merece ser pago com crime, essa não é uma forma de trazer justiça, mas sim, de forma animalesca e vil, trazer um senso deturpado de justiça. Isso não é hipocrisia? Não é errado?

É válido se atentar que estes mesmos espectadores são o espelho cru e realístico da realidade em que vivemos, e esta foi a primeira crítica na qual veio a minha mente ao ver o capítulo. Quantas vezes nós vemos pessoas, que podemos ser nós mesmos, paradas no meio da rua frente a um acidente fotografando e filmando um acidente ou uma confusão gerada por uma ou duas pessoas? Levou uma bala ou um membro foi decepado, a primeira reação delas não é serem prestativas e hospitaleiras, mas cruéis e sujas, retirando o celular e a câmera do bolso para a registrar a tragédia e o jorrar de sangue. Levantamos a bandeira da ética e da moral, mas não adianta porque, somos tão fracos e falhos que acabamos cometendo erroneidades do mesmo jeito. Estamos numa sociedade em que quanto maior o sofrimento do próximo, mais satisfeitos estamos. Os problemas aumentam, as injúrias ocorrem, as calúnias inflamam e as atrocidades implodem cada vez mais um mundo sujo onde o homem quer criticar, mas não faz nada para modificar ou melhorar. Ficamos chocados com o que nos comove, mas em pauta da realidade, não movemos uma palha pela mudança.

Esse, é, certamente, o capítulo mais brutal e que teve mais parcela de impacto sobre mim nesses longos cinco capítulos de Black Mirror. O teor de realidade e críticas construtivas é algo que não consigo digerir tão facilmente quando estou vendo esta série, nem mesmo consigo encontrar forças e cargas emocionais e psicológicas para ver o que o próximo capítulo reserva. Como nós vivemos normalmente depois de presenciar isso? Numa crítica que vai bem mais além de algo sucinto, fiquei realmente perplexo como é mostrado a crueldade de ambos os lados. Somos todos hipócritas em certo estado e criminosos em certo nível por fazermos com nossas próprias mãos aquilo que acreditamos ser certo, porém de forma torta, sempre arranjando meios para justificarmos o aquilo que é característico do volúvel comportamento humano. Eu, nunca, estou de colete quando vejo essa série e sempre recebo mais de uma bala. Tão perturbadora quanto impressionante.

Episodio 3x2 - Nota 10 2016-12-10 01:43:56

Eu acho esse capítulo tão poderoso quanto qualquer outro já mostrado na série. Inclusive, a gama de críticas tecidas neste capítulo é ricamente vasta. Quando se está perto de uma lareira, nem é preciso ficar literalmente perto dela para sentir o calor. Basta ficar apenas alguns metros de distância que você sente a temperatura elevada. Da mesma forma ocorre com esse capítulo, e de forma tão clara e aberta, se vê o propósito daquilo que ela está mostrando, e você sente isso. O que era para ser uma jornada divertida e tecnológica, levando em consideração a experiência do Cooper, acaba sendo algo perturbador e angustiante, que eleva a percepção sensorial à níveis extremamente altíssimos, e em suma, o espectador também sente tudo isso.

Eu levo numa boa alguém não gostar ou não se identificar com este capítulo em questão, isso é direito de cada um, mas é inegável a parcela de questionamento que a série vem costurando a cada capítulo dela, e este então, que é fonte de várias indagações e análises, algumas pessoas a desprezam num mesmo nível como quando fizeram com a crítica ao Waldo, que é um dos capítulos mais excelentes de Black Mirror. Lembrando que, é sempre bom ter subsídios para defender um ponto ou argumento, independente do gosto pessoal. Isso dá mais credibilidade, embora não seja regra.


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Paulo

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