Toda vez que Tawney aparece dá uma vontade grande de abraçar ela.

Ainda melhor do que ver Rectify em "Com Episódio Hoje" é começar a temporada sabendo que essa série linda já foi renovada.

Rectify é profundamente interessada na condição humana. Ela consegue remoer brilhantemente bem em toda cena e, assim, extrai toda dramaticidade disponível de cada momento. Sempre tendo o cuidado pra não se mover rapidamente, a ponto de atrapalhar as delicadas características de seus personagens e relacionamentos minuciosamente criados até aqui. "Hoorah" é um episódio doloroso: após a admissão de culpa de Daniel, vem repleto de situações difíceis em frente a cada personagem. Todos estando incertos do que vem a seguir, ninguém sabe bem como proceder, cada personagem se encontra em uma encruzilhada na vida.

É incrível que mesmo quando o Daniel não é o foco, a série consegue traçar um ritmo singular ditado por seu estilo, mesclando sensibilidade e metáforas em torno de sentimentos crus de seus outros personagens. Os diálogos pacientes, uma fotografia deslumbrante e um ritmo que faz o tempo se sentir dilatado. É a natureza contemplativa de Rectify, é algo que a faz única e transcendente.

A série nunca ofereceu certeza sobre a inocência ou culpa de Daniel e, aliás, sob todo o cuidado da escrita de Ray McKinnon, ele convence que há uma grande diferença entre confissão e verdade. Mas é claro, é um mistério para todos nós e que não podemos dizer que não importa. Não tem como saber exatamente quando ele (graças à performance de Aden) está dizendo a verdade ou não. É justamente essa ambiguidade que considero muito mais instigante de acompanhar.

Rectify não é fácil, ela não costuma simplificar, são muitas complexidades e isso não é no enredo ou algo do tipo, mas é a maneira que ela consegue transmitir significados através de pessoas quebradas, em pequenos momentos, em certos olhares e entre outras coisas. E isso tudo com muita ousadia, reflexão e coração.

A cena entre Teddy Jr e Janet, na qual ela diz: "Eu nunca deveria ter dito a você para me chamar de Janet", me fez relembrar do piloto da série quando ela fez esse pedido e como nesse instante foi triste, apesar do Teddy Jr ser idiota às vezes. Outra cena interessante é justamente com o Teddy Jr (vem crescendo desde a 2 season), no início do episódio quando ele compra um chocolate numa dessas máquinas que eu nunca usei na vida (rs), mas que parece com problemas e tal... É tão interessante ver essa necessidade de descanso (em comer uma barra de chocolate) do Teddy Jr, sendo nesse instante que podemos visualizar perfeitamente o seu interior, o quão quebrado ele está.

Uma das coisas que acho mais espetacular em Rectify é a atuação de Aden Young. Ele consegue passar uma profundidade em momentos tranquilos, de pensamento e também uma raiva profunda, e isso tudo ao mesmo tempo praticamente. A desconexão entre o tom de sua voz e a angústia em seu rosto é algo único. Daniel é um dos personagens mais complexos e convincentes que já tive o prazer de acompanhar.

Enfim, eu falei pouco sobre o episódio em si, mas é mais ou menos por aí. Tudo pode e deve mudar ao logo do tempo, é assim que funciona em Rectify.

Essa série me emociona demais. A cena do Daniel no parque me encheu os olhos de lágrimas.

Esse sotaque sulista... Tawney :)