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The Deuce By Gustavo Marques





Episodio 1x1 - Nota 9 2017-09-09 01:57:54

David Simon disse uma vez, durante uma conversa com o grande Nick Hornby na época de The Wire, naquela que talvez seja a minha entrevista favorita do 'mundo literário': "meu padrão para a verossimilhança é simples e eu uso desde quando comecei a escrever narrativa em prosa: foda-se o leitor comum". E esse é um dos principais motivos de suas obras serem tão diferenciadas, é por isso que ele é o grande autor da televisão do século XXI.

As pessoas estão tão acostumadas com as séries da Netflix (que querendo ou não, é a grande vitrine de séries na cultura pop), em sua maioria feitas sob medida para esse 'leitor comum' que David Simon tanto despreza, e com os blockbusters de uma forma geral, que acabam tendo seriados-pipoca como referência, como dá pra ver em alguns comentários daqui. Mas citando novamente David Simon: "Você tem que escrever para si mesmo e para os outros roteiristas. Se você for na onda do público, ele sempre vai pedir sorvete. Tem de comer os legumes, você explica. O público é uma criança". E é isso que ele faz mais uma vez, em mais uma aula de como se fazer um episódio de estreia.

Outro ponto é que as obras do Simon, como ele mesmo definiu, são como "romances visuais", há toda uma linguagem literária que raramente vemos no audiovisual (a não ser nas séries do David Milch, talvez de Matthew Weiner), outro motivo de suas obras serem tão únicas.

Tanto que - ao invés dos usuais screenwriters - ele chamou romancistas (com ênfase em ficção pesquisada) para o grupo de roteiristas, além de parceiros remanescentes de escrita, como George Pelecanos (talvez o grande tragediógrafo da nossa época, agora como co-showrunner) e Richard Price (considerado um dos melhores escritores de diálogos dos últimos tempos, como mostrou em The Wire e na minissérie The Night Of, em que ele escreveu todos os episódios), ambos com passado literário. E sem esquecer da identidade visual (afinal, é uma série de época), que ficou por conta da excelente Michelle MacLaren (uma das principais responsáveis por Breaking Bad) e de Pepe Avila del Pino, que vem de um ótimo trabalho como diretor de fotografia de Quarry, ambientada na mesma década. Esse final, aliás, me lembrou bastante o piloto de Quarry.

E sim, era necessário ter 1h20 de duração para estabelecer o universo da série e fazer uma apresentação digna dos personagens, que foi um dos problemas do piloto de Treme, outra série do Simon com numerosos personagens (e que, diferentemente de The Wire - e a exemplo de The Deuce - também não tinha um "caso" como gatilho). Se tivesse um minuto a menos não teria sido tão redondinho.

Em linhas gerais, esse piloto confirma aquilo que eu já suspeitava quando li sobre a premissa e o pessoal envolvido: é a obra mais ambiciosa de David Simon desde The Wire, tanto em termos de narrativa, como de temática (provavelmente abordando a prostituição da mesma forma que TW tratou do tráfico de drogas) e potencial catártico (não lembro da última vez que terminei um piloto tão cativado pela maioria dos personagens, talvez só em TW mesmo). Até mesmo pelos diálogos pontuais e envolventes (e olha que esse episódio nem foi escrito por Richard Price), algo que eu senti falta em Show me a Hero e Treme. O hype era real.

PS: Toda essa questão da prostituição e objetificação da mulher dialoga bastante com Mad Men, que terminou no início dos anos 70, que é mais ou menos quando The Deuce começa, mostrando um "outro lado" de New York, que vez ou outra era mostrado em Mad Men, agora sob o olhar mais naturalista de David Simon no lugar do realismo característico de Matthew Weiner.
PS': Uma cena (que teria sido uma cold open quase tão icônica quanto a de TW) com referências a "SHEEEIT" e "the game", GOSTAMOS.
PS": Esqueçam Vinyl. As únicas semelhanças entre as duas séries são a época e a emissora. Propostas totalmente diferentes. Uma foi criada pelo cara de Boardwalk Empire, a outra pelos responsáveis por The Wire (com colaboração de Breaking Bad/The Night Of/Quarry alums). The Deuce tá muito mais para The Americans, se for para fazer alguma comparação.

Episodio 1x1 - Nota 9 2017-09-11 12:06:13

Eu gosto dos diálogos de Treme, tem aquele "there are so many beautiful moments here/they're just moments, they're not a life" no final da primeira temporada, que é uma das minhas linhas favoritas de todos os tempos. Só que não são tão pontuais e envolventes como os de The Wire, principalmente nos primeiros episódios (quando você não está tão imerso naquele mundo ainda), enquanto que TW já te cativa logo na primeira cena com aquela cold open genial.

Episodio 1x1 - Nota 9 2017-09-17 20:15:54

Eu acho essa "concessão" super válida para outras obras mais "difíceis" (ou de nicho) do Simon. Mas esse piloto teve diálogos tão bons, personagens tão interessantes sendo introduzidos, que eu acho que, mesmo se a gente "esquecer" de todo o trabalho de pesquisa sociológica por trás da obra, esse episodio se sustenta bem em níveis dramatúrgicos. Por isso mesmo comentei acima que The Deuce talvez seja a obra mais ambiciosa do Simon desde TW.

Mas sim, esses comentários aleatórios são mesmo bem usuais aqui em episódios de estreia. E é mesmo uma pena que tanta gente ainda não conheça uma série tão importante (e deleitosa) como The Wire em 2017.

Episodio 1x3 - Nota 8 2018-01-05 23:36:01

Só mesmo numa série do David Simon para a gente ver uma garçonete e uma prostituta falando sobre Dickens, e um cafetão comunista < 3.

Episodio 2x1 - Nota 7.5 2018-11-19 00:51:50

Foi uma premiere bem Mad Men, mais interessada na construção de uma identidade visual e em dar um insight cultural do que em contar uma história. O que até faz sentido, já que New York mudou muito nesses cinco anos (e os personagens são os mesmos da primeira temporada, uma lógica narrativa um pouco diferente da de The Wire), mas foi o episódio mais "ok" da série até aqui.

Mas eu gostei da parte da Candy. Ela virou diretora e está tentando subverter um meio extremamente sexista, e as cenas dela com Harvey foram ótimas. Ela quer transformar pornografia em arte; ele não a desencoraja completamente, mas lembra que o seu público quer outra coisa, algo mais simples. Seria um meta-comentário de Simon sobre o seu tempo na TV aberta?

Seja como for, são discussões fascinantes sobre arte/entretenimento, que dialogam muito com o atual momento da TV americana (peak tv/pós-era de ouro) e com a história da HBO (que surgiu como uma emissora de vanguarda e hoje é mais conhecida por ser a casa de blockbusters como GoT).

Episodio 2x1 - Nota 7.5 2019-05-10 23:21:01

São cinco na verdade, acho que me confundi na época. A primeira temporada se passa entre 71 e 72.

Episodio 2x2 - Nota 7.5 2018-11-20 19:37:27

Que lindeza essa cold open, a rima visual que ela faz com o piloto, mostrando como os cafetões estão ficando obsoletos e perdendo poder com o advento da indústria pornô.

E eu adoro como os personagens de The Deuce conversam sobre literatura e cinema com a mesma naturalidade com que eles falam sobre, sei lá, sexo. Eu achava que tinha um pouco de idealização do Simon (e do Pelecanos, e do Price) nisso - pessoas comuns falando sobre Dickens e Freud - mas fui ler a review do MZS, da Vulture, e ele destaca que os anos 70 foram "a última década americana em que a leitura não era considerada uma atividade elitista".

"Isso é expresso não apenas pelo conteúdo das conversas dos personagens, mas pelo ritmo de suas falas", ele escreve. "The Deuce traça com seriedade referências a poesia e romances, peças e musicais, cinema italiano e francês, Sigmund Freud e Bruno Bettelheim, depois esvazia-as com uma piada".

Episodio 2x4 - Nota 8.5 2018-12-06 16:07:56

que pesada essa cena final. tão the wire.
o plot do larry acabou servindo mais de alívio cômico, mas não deixa de ser interessante ver o cafetão também sendo objetificado e tendo que abdicar daquela sua posição de poder. gbenga akinnagbe é ótimo passando essa sensação de desconforto.

agora sim, esse é o david simon que a gente conhece.

Episodio 2x5 - Nota 9 2018-12-10 10:05:26

eu adoro a abby como personagem, mas realmente, ela tava um porre nesse episódio.
eu gosto dela porque ela é tipo a mcnulty de the deuce. é a personagem que liga os dois principais núcleos da série, e é também a única pessoa 'de fora' que realmente se importa com a vida das prostitutas.
mas é aquilo né, ela tá fazendo isso da sua zona de conforto. do seu bar protegido pela máfia, da sua clínica financiada pelo vincent. é meio hipócrita da parte dela julgar o bobby.
e eu amo esse plot porque ele mostra o choque de realidade entre o 'pensamento acadêmico' e a 'realidade das ruas'.

david simon, o charles dickens do século XXI.

Episodio 2x6 - Nota 8 2018-12-19 16:51:14

"I love this fuckin town"

Episodio 2x8 - Nota 9.5 2018-12-20 22:48:05

- What happened?
- He talked too much

Episodio 2x8 - Nota 9.5 2018-12-20 22:50:59

Penúltimo episódio da temporada e written by George Pelecanos, é ÓBVIO que teríamos o desfecho trágico de algum personagem regular.

E eu gosto que o roteiro vai dando várias dicas sobre quem poderia ser a "vítima fatal" do episódio - às vezes a Lori, em outro momento a Dorothy - e então vem esse final. Isso, amigos, isso sim é tragédia.

Porque, por mais que o C.C. seja o Marlo de The Deuce - com sua morte sendo um desfecho quase libertador para a maioria dos telespectadores - esse final sintetiza bem a "tragédia" dos cafetões, que foram perdendo poder e ficando obsoletos (não apenas por causa do advento da indústria pornô, mas também pelas políticas da prefeitura e do 'projeto' do mercado imobiliário), como a série vem mostrando ao longo da temporada.

Episodio 2x9 - Nota 10 2018-12-27 09:14:05

Foi um belo desfecho para essa história que Simon e Pelecanos começaram a contar no piloto. O final da primeira temporada já mostrava o advento da indústria pornô, e essa temporada focou nas consequências disso: a decadência do negócio da 'prostituição de rua' e da figura do cafetão (C.C. e Rodney morreram, Larry virou ator pornô). Alinhado com isso está o projeto de reurbanização da cidade (eu achei o núcleo da polícia meio aleatório nessa season, mas esse final foi ótimo).

O final da Dorothy é triste porque, mesmo tendo escapado daquele mundo (antes mesmo da Lori), ela não conseguiu "seguir em frente", superar os danos psicológicos causados por anos de abuso sexual e emocional. Bem pesado, mas essa é uma série do David Simon, afinal, o grande escritor naturalista do século XXI.

É o fim de uma era. Adeus Anos 70. Agora a terceira (e última) temporada deve focar na epidemia da AIDS e na decadência da indústria pornô. Desde já no aguardo.

E eu queria TANTO que mais séries explorassem esse gênero do drama urbano.

Episodio 3x7 - Nota 9 2019-11-13 17:57:09

"And, Gene, you're misleading everyone coming here to tell us that this new phase of redevelopment is gonna save my neighborhood from itself, that the city is looking out for us. Sure. There's billions of dollars at play but it's private money. Seems your role in this is to make the remapping of Times Square a bit more palatable by pretending it's a public project.
But, Gene, you know I mean this with love in my heart. You can go fuck yourself if you expect us to do your bidding...

I'm sure there's economic development and jobs coming in, but the people I know won't see any of that. No. You're gonna rebuild and re-gild Times Square, and anyone who's not up to corporate standards of respectability gets kicked down the road.

I run a bar where job one is to treat the damned and the damnable alike, with a little dignity. I might not have done much in the last 14 years but I've served an honest drink. And I'm not gonna stop."


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Gustavo Marques

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