Trapped (2015) by

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Episodio 1x1 2017-09-16 13:30:14

Cidadezinha tranquila, de habitantes simpáticos, recebendo turistas, um corpo aparece na água, uma foto é preservada em quadro, homem ruim de cabelo grande e grisalho... tô muito órfã de Twin Peaks :/

É engraçado como eles se preocupam em delimitar bem didaticamente onde fica a Islândia no mapa, na apresentação do projeto dos empresários.

Gosto desse piloto, das tramas familiares paralelas à investigação que em algum momento chegará ao rapaz que conseguiu escapar do incêndio, mas também caminhará em busca do traficante de mulheres que fugiu da polícia. Andri conseguiu despertar simpatia logo de início e foi uma grata contribuição o fato dele ser o policial que investigará o caso, mesmo que à margem das autoridades estaduais.

Episodio 1x2 2017-09-16 15:13:54

No episódio passado, eu tinha eliminado Hajörtur como suspeito, mas o retorno da possibilidade é convincente, já que o assassinato pode ter sido vingança ou algo desse tipo, diante do testemunho do chef que o contratou. É dúvida se ele tirou o corpo dali, mesmo porque tudo indica que o traficante de crianças não trabalha sozinho e deve ter o apoio de toda uma rede (o que coloca essa rede como suspeita), inclusive do comandante (não é possível que ele só esteja sendo idiota gratuitamente, não colaborando com a investigação). E outra hipótese é que o assassinado tenha visto as meninas nigerianas e sua morte foi queima de arquivo. Daqui a pouco, contudo deve aparecer uma terceira via para o caso... e surpresa será se tudo estiver interligado.

Toda essa tensão no episódio foi muito bem construída, culminando com essa sensação de desespero no final. Tudo deu errado ao mesmo tempo, todos parecem muito vulneráveis, com exceção dos que parecem lobos... não faço ideia do que Hajörtur quer fazendo aquelas fotografias, mas me pareceu que era ele ali no final, observando as meninas. Não acredito ainda que ele seja um vilão, apesar dessa auto-defesa agressiva, compreensível até certo ponto.

Ainda não consegui estabelecer a ligação do crime com a construção do porto, a não ser como pano de fundo para defender o acesso controlado à comunidade, já que navios supostamente trariam problemas como o que está acontecendo... Espero que seja mais do que isso e seria bem instigante se o assassino fosse alguém dali.

["O clima tá horrível"... e eu achando que clima horrível é quando ainda me molho mesmo usando guarda-chuva.]

Episodio 1x3 2017-09-17 17:03:55

A terceira via de investigação era esperada (muito embora seja tão tolo deixar pistas tão valiosas junto aos pedaços do corpo, que aquilo parece plantado ou, em outra hipótese, o assassino não tinha a mínima noção do que estava fazendo) e, apesar desse episódio ser um pouco mais morno, por ser de transição, fechamento de um argumento para anunciar outros, ele levanta as possibilidades de o crime significar algo mais complexo do que vingança ou queima de arquivo. Parece que agora tudo conduz ao projeto do porto e todas as ambições que isso envolve. E se é sobre os ambiciosos empresários que as suspeitas recaem nesse novo rumo, também pode ser sobre o contundente protecionismo do senhor que não aceitou a venda de suas terras, mesmo que suas intenções sejam boas... é sabido que a morte da menina foi acidental, que o objetivo era incendiar o armazém, tanto que alguém, provavelmente a mesma pessoa que provocou tudo, arriscou a vida pra salvar Hjortur e não conseguiu fazer o mesmo por ela, ou nem sabia que se encontrava ali. A probabilidade dessa dedução, se ela vier a se concretizar, não faz de Trapped uma grande série de investigação, mas ainda assim, vale acompanhá-la. Fico na expectativa de que não tenham entregue a solução do caso no terceiro episódio, já que a narrativa parece levantar suspeitos para descartá-los até que bem rapidamente.

Episodio 1x5 2017-09-20 22:22:22

Terá o assassino de Hrafn provocado um novo incêndio e seria o responsável pelo antigo ou levado a cabo uma ironia maligna, de fazer o prefeito morrer do mesmo modo que matou a namorada de Hjortur, quando era o chefe de polícia? De um modo ou de outro, a atmosfera é muito pesada em torno de toda a narrativa que o envolveu: o relatório fajuto sobre o incêndio no armazém, a violência doméstica, as negociatas sobre as terras da comunidade, a morte assistida pela esposa que não pareceu que sustentará nenhum cisco de dor na consciência, como se o destino a tivesse presenteado com a saída de uma vida de humilhações... sobretudo é uma morte que tece um paradoxo radical à outra, do velho. Este morre abraçado pelo gelo da comunidade islandesa que ele queria proteger a todo custo, aquele, parece exorcizado dali pelo fogo, o indesejado.

Gosto muito dessa aproximação entre Hinrika e o senhor do telescópio... como o isolamento e a solidão fizeram mal a ele... Ao mesmo tempo, ele conseguia aplacar suas dores identificando as dos outros, sendo solidário ao seu modo, como que procurando outras solidões como a dele, ainda que não interferisse em nada. Outro ponto positivo nessa narrativa de forma geral é como, de forma sutil, passamos a conhecer os conflitos dos personagens, de Hinrika a Andri, por exemplo. É um modo bem instigante de nos manter tanto interessados na investigação quanto empáticos em relação aos personagens.

Episodio 1x7 2017-09-21 16:02:22

Mais uma vez a cidadezinha testemunha a tragédia que poderia ser evitada se as pessoas fossem menos impulsivas... parece que ali arde essa ânsia de que todas as coisas estejam evidentes e voltem a uma normalidade perigosa, já que os segredos se embrenham por entre todos aqueles personagens, mesmo os mais desinteressados. Além de tudo, o navio traz uma junção de complicação e coincidência e não é de se estranhar que a investigação acabe voltando a ele.

No meio de tudo isso, é ótimo ver o empenho da polícia local e por isso incomoda tanto que Andri tenha agido de forma tão arrogante com Hinrika (achei que ela jogaria o café na cara dele, o ingrato). Esse caso do passado coloca explicações na conduta que ele sustenta, justifica esse senso exagerado de obrigação pessoal e, consequentemente, o fato de ter se ocupado tanto. E embora tenha sido Hinrika a insistir na investigação sobre o tráfico das meninas, talvez com a solução desse crime, ele consiga encontrar para si mesmo uma redenção.

Episodio 1x10 2017-09-23 00:22:53

Quando percebemos que os autores dos crimes foram as pessoas feridas pelos assassinados, começamos a relativizar o senso de justiça que temos, o que é devidamente controlado pela integridade de Hinrika e Andri, de que a polícia, como o órgão que deve dirigir as punições a quem se desvia das normas de modo a causar danos a outrem, deve agir do modo certo, independentemente de comoções e identificações pessoais (e que podemos, pelo menos nessa ficção em uma pequena comunidade islandesa, confiar nela - já é alguma coisa, apesar de que todos os outros agentes parecem agir ao contrário disso).

Particularmente, gosto dessa abordagem comedida e honesta acerca de um ideal dos agentes da justiça que, se não perdoam as faltas, não deixam de ser empáticos a algumas razões, escapando das conotações maniqueístas e agindo de acordo com princípios que devem valer pra todos (é uma ilusão nesses tempos sombrios, mas vamos nos permitir, ao menos).

Trapped concluiu o caso de um modo comovente e, até certo ponto, ofereceu ao final mais do que prometeu de início, inclusive amadurecendo os dilemas pessoais enquanto desenvolvia as investigações. Espero a próxima temporada :3

Episodio 2x1 2019-03-09 11:17:20

Esse crescimento da extrema direita tem rendido em tantas séries que sobrou até pra Trapped. E é ótimo que se discuta isso, apesar de que sempre é necessário olhar com muito cuidado a questão nacionalista para que não tornem extrema direita e nacionalismo como sinônimos, apesar da primeira adorar se apropriar de uma ideia de pertencimento que de forma nenhuma lhe é exclusiva (inclusive, aqui no Brasil, a gente sabe no que deu essa apropriação indevida, não é mesmo?). Definitivamente não sei nada sobre a política islandesa e essa discussão me anima a pesquisar um pouco mais. É evidente que tudo está relacionado a um ideal de identidade do lugar e do povo, mas isso pode ser muito facilmente usado para o benefício de uma elite interessada em lucrar sozinha com as reservas. De qualquer modo, exploração interna ou estrangeira, são os trabalhadores que perderão tudo, tudo piorado por esses sentidos de desonra e perda de dignidade que os atingem quando sentem que sua terra já não lhes pertence (ofensa a um "mito de origem"). O atentado me parece que liga todos esses elementos, com um detalhe a mais: o irmão não suportaria a vergonha de que sua própria irmã fosse a "mercenária" e por isso decide se sacrificar.

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