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Complicado jogar o conceito de "amor contemporâneo" para em um espaço-tempo completamente diferente do nosso. Vai saber se houve "amor" ou não, como falamos hoje em dia. Outra mentalidade, outras preocupações, outras vivências; o amor não é inato nem natural, portanto, o que é pra mim e você não é o mesmo pra alguém que nos separa em três séculos. Além do mais não há documentos históricos que dê conta disso. Se há relatos sobre um possível amor genuíno entre monarcas é sempre pelo olhar de terceiros e não garante a complexidade do acontecimento. Philippa Gregory só foi esperta em romancear isso, afinal sua fidelidade é com a escrita e não com os prováveis fatos.
Jorge, acredito que você não compreendeu o que eu disse. Eu critiquei a suposta autenticidade histórica que você quer ver na trama. Levantei dois pontos: em primeiro lugar não existe documento histórico que dê conta do que foi o amor entre dois monarcas. A própria concepção de amor é questionável para os padrões de hoje, uma vez que quando pretendentes aristocratas se casavam por arranjamento não se levava em conta empatia, afinidade, preferência estética, liberdade de escolha, sentimento... Nada disso era levado em conta. Hoje em dia isso resume o amor. Basicamente a pessoa se acostumava a "amar" a outra, com a convivência. É o que pode ter sido o caso dos monarcas em questão afinal o casamento já fora arranjado quando a menina ainda era criança. Henry pode ter desenvolvido uma afeição natural por Elizabeth. O que eu quero dizer é toda hipótese levantada por historiadores a partir de fontes é, acima de tudo, hipótese. Por mais que o historiador leia mil textos de cronicas da época que descrevem um relacionamento amoroso entre Elizabeth de York e Henry, ele nunca vai contemplar o que houve de fato. É hipótese. O próprio link do artigo que você indicou admite isso, se baseando em David Starkey. Quem sabe em algum outro dia apareça outro historiador que encontre outros documentos e indiquem algo contrário... percebeu como fatos históricos não são incontestes e sim interpretações perigosas e maleáveis? Que o historiador só pode indicar aquilo que existe registro e não pode e nem tem como ter controle de toda uma vida, um casamento, um amor. Sabe por que eu digo que são hipóteses? Henry nunca teve amantes. Será mesmo? Como poderíamos ter tanta certeza? E se ele não teve amante mesmo, pode haver outros motivos além do fato de só amá-la? Pode, vai saber... Resumindo: nem mesmo os historiadores podem precisar o sentimento entre duas pessoas, ainda mais reis de casamento arranjado. Não to dizendo que não teve amor, mas também não to dizendo que teve. Mas que está aberto a possibilidades.
Segundo ponto: P. Gregory é romancista. Usou fatos históricos como fundo da trama atraves de uma vasta pesquisa. Mas sua escrita é essencialmente romanceada e seu compromisso é em contar uma estória. A autora tem liberdade artística pra introduzir o que quiser. Não está produzindo pra Academia, não é um texto histórico, não pretende reproduzir o que aconteceu. Fez ajustes porque achou mais interessante para a história. Quem quiser "saber o que aconteceu" vai ler os textos de historiadores sobre o assunto, ter contato com as fontes históricas e etc.
Desculpa pelo textão rsrs. É que me incomoda mesmo quando cobram fidelidade histórica sendo que nem historiadores nem romancistas tem capacidade pra isso, quanto mais roteiristas de série.
Jorge, eu não gosto de dar carteirada mas já que você usou não vejo o porquê de eu não usar: eu sou historiador. Formado. Tive contato com teoria de História por isso tentei debater sem mencionar isso. Mas... Cê que sabe. Se for assistir a toda obra histórica cobrando isso ou aquilo que não é fiel vai se decepcionar MUUUUUUUUUUITO ainda.
Ainda é muito cedo pra inferir a intenção dos roteiristas, vamos aguardar. Mas de qualquer forma tenta refletir no que eu te disse.
Toda vez que a Margaret (mãe do rei) aparece eu reviro os olhos. E olha que eu nutria uma pequena empatia com ela em The White Queen.
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