IMPORTANTE: O Banco de Séries não serve para assistir séries! Somos uma rede social onde os fãs de séries podem controlar os episódios que assistiram, dar notas, comentar, criar sua agenda, saber quando passa o próximo episódio. Somos totalmente contra a pirataria e não disponibilizamos conteúdo que fere direitos autorais.

Westworld By Gustavo Marques





Episodio 1x1 - Nota 8.5 2016-10-04 20:00:31

Vejo nascer um clássico, vejo nascer mais uma obra-prima do Jonathan Nolan, vejo nascer uma série que tem tudo para se tornar um marco na história da televisão.

Person of Interest, do mesmo criador, terminou esse ano como uma das melhores séries já feitas. Mas faltou o pedigree de uma HBO para que a série tivesse o reconhecimento que merecia. Além de uma maior liberdade criativa e narrativa - e um maior apelo visual - que basicamente, foi o que separou a série da perfeição. Westworld tem isso. E a julgar pelo piloto, Nolan manterá a mesma pegada conceitual de sua obra anterior. POI foi inovadora e visionária. Westworld, graças a HBO, pode ser revolucionária.

A inteligência artificial abordada em Person of Interest era muito mais coesa, mais próxima da realidade. Mas a de Westworld é mais antropomorfizada. Fazendo um paralelo, POI foi uma espécie de "The Wire das IAs" (multi-pov, importância sociológica, nível de realismo). Eu acredito que Westworld possa ser uma Sopranos do sci-fi (IA como protagonista. No caso, a Dolores), fazendo o telespectador "torcer" para as máquinas ao invés de humanos, que aqui não devem ser o "bem" como na maioria das produções com essa temática, um dilema moral tão grande quanto se identificar com um criminoso no início da era dos anti-heróis.

- As "experiências" de Westworld são como as simulações de Person of Interest, só que aqui o papel se inverte: são realizadas por humanos e têm as IAs como "agentes", e não o contrário. Esse piloto, inclusive, tem vários elementos de If-Then-Else, o melhor ep de POI e uma das horas mais perfeitas e geniais que a TV já fez. O que me deixa bastante animado com a série.

- Assim como a Machine de POI, as IAs de Westworld são programadas para não terem lembranças, mas aos poucos acabam recuperando a memória.

- Interessante também que esse episódio deu a entender que a série vai explorar a parte política por trás do parque

- 2016 levou embora Root e Mr Greer mas trouxe Dolores e Dr Ford, nada mal. Mas o destaque desse episódio, na minha opinião, foi o Peter Abernathy. O que foi aquela cena dele citando Shakespeare e ameaçando seu criador no melhor estilo Frankenstein.

Enfim, pela primeira vez nos últimos cinco meses não me sinto tão ófão de Person of Interest. Seja bem-vinda, Westworld. Algo me diz que a televisão e a ficção científica não será mais a mesma.

Episodio 1x2 - Nota 8.5 2016-10-08 18:49:36

Chestnut é basicamente uma segunda parte do piloto de Westworld.

E eu já havia percebido isso na primeira parte, mas aqui ficou ainda mais evidente essa analogia que a série vai fazendo do parque, não só com jogos de vídeo-game - como os criadores comentaram - mas com os bastidores de um programa de televisão (entre outras áreas que envolvem criação). Sizemore é como alguém do grupo de roteirista, enquanto Dr. Ford é o showrunner (e a diretoria é a emissora). Seria isso uma metalinguagem de como funciona o processo criativo da série?! Dr Ford seria o Nolan, que vê a série como algo muito mais transcendente? Quem do grupo de roteiristas seria Sizemore? Seria Lisa Joy (sua esposa e co-criadora)? Os visitantes seriam os telespectadores? E se sim, Dr Ford/Nolan estaria certo sobre eles? Eles querem uma série diferenciada, conceitual, etc... ou estão atrás apenas de um blockbuster, com twists e afins?

- Muito bom ver Jonathan Nolan (roteiro) e Richard J. Lewis (direção) voltando a trabalhar juntos em um mesmo episódio, depois do emblemático God Mode de Person of Interest. Aliás, Nolan e Richard Lewis também co-produziram o segundo episódio de PoI, assim como acontece aqui.

Episodio 1x3 - Nota 8.5 2016-10-18 00:05:14

As similaridades com Person of Interest continuam, e isso é bom demais. Arnold tem suas semelhanças com Nathan Ingram (com um Q de Samaritan), e foi apresentado ao público também no segundo episódio (considerando o 1x02 como uma segunda parte do piloto).

Vimos também que Bernard (por ora, vou desconsiderar as teorias de que ele poderia ser uma IA) vê Dolores como uma filha, tal como a relação Harold-Machine. E que ele e Ford divergem quanto a "natureza da realidade" das IAs. O personagem de Hopkins não vê os hosts como "seres vivos", o que lembra um pouco as discussões entre Harold e Root (muitas saudades desses diálogos maravilhosos, aliás) em POI (Dolores seria Machine). Claro, aqui com uma inversão hierárquica entre homem e máquina.

E que personagem interessante é a Dolores. A série mal começou mas já digo que é uma das melhores protagonistas dos últimos anos na televisão. Evan Rachel Wood bem demais no papel. Juntamente com Bernard e Ford (e talvez agora Arnold), é o que Westworld vem apresentando de melhor até aqui. A "mitologia sci-fi" da série passa por esses personagens.

Episodio 1x5 - Nota 8.5 2016-11-06 21:11:22

Jonathan Nolan está bastante envolvido criativamente com essa primeira temporada, mais do que o habitual para um showrunner (três dos quatro primeiros episódios foram (co) escritos por ele, e o próximo também será). Mas a melhor das cinco primeiras partes de Westworld (que me perdoe o fantástico The Original, piloto do ano) não teve roteiro dele.

Não querendo menosprezar o papel de Lisa Joy, também co-criadora, e que esteve no roteiro desse e do terceiro episódio (os dois que não tiveram roteiro assinado por Nolan), mas é que ela não tem um "currículo" - digamos - tão bom como o do marido. Apesar de que Person of Interest talvez não fosse tão WOW se ela não tivesse indicado Amy Acker para o papel de Root (inclusive espero que a mesma entre pro elenco de Westworld na S2. Ela e o John Nolan). E é aquela máxima de que "por trás de todo grande homem, existe uma grande mulher".

De qualquer forma, Contrapasso foi tudo que eu esperava de Dissonace Theory. Aquele episódio que fecha um ciclo, que é um divisor de águas na temporada. Existe um antes e um depois dele. E que geralmente, em uma temporada de 10 partes, é do 7° episódio para frente. Em WW foi o 5°. Simplesmente não tem como não criar expectativa para a metade final da S1. Prevejo aquela sequência de masterpieces (pelo menos uma trilogia) que só série do Jonathan Nolan sabe fazer.

- Dolores "ouvindo a voz" foi tão Root conversando com Machine
- Elsie é uma personagem subestimada
- Muito bom ver os visitantes saindo um pouco do "God Mode" e indo para outro nível do jogo.
- Bem interessante as conversas entre William e Logan, mostrando mais da história deles e como estão relacionados com o parque. E ainda teve umas pinceladas sobre espionagem corporativa
- Cenas memoráveis de Anthony Hopkins com Evan Rachel Wood e Ed Harris. A atuação desses três, principalmente os dois primeiros, é um negócio absurdo.
- E pela primeira vez, os "ciclos narrativos" foram quase tão interessantes quanto a parte sci-fi da série. Confesso que esse núcleo não estava me envolvendo muito, embora reconheça sua importância para o desenvolvimento dos personagens, e até para introduzir o público em um universo tão complexo.

Episodio 1x7 - Nota 9.5 2017-04-15 19:48:56

Person of Interest já teve uma representação audiovisual de um universo orwelliano melhor do que as adaptações cinematográficas de "1984", e agora em Westworld, Jonathan Nolan vai fazendo algo parecido com o mundo de William Gibson, pelo menos no que diz respeito a abordagem sobre inteligência artificial (até porque, o resto - em especial a parte visual - Sam Esmail já está fazendo muito bem em Mr Robot. Que época boa para os fãs de cyberpunk, e de suas derivações/variações). Westworld é puro Neuromancer. Sem mencionar que nenhum outro roteirista/showrunner entende tão bem os conceitos asimovianos, presentes em suas duas séries.

Não sou o tipo de telespectador que sai por aí atrás de teoria, até me irrita um pouco que a maioria das conversas sejam mais sobre o "mistério" do que sobre os conceitos da série, principalmente em uma época em que as discussões sobre IA sejam tão relevantes.

Mas acontece que Westworld é uma experiência nova pra mim. Talvez pela primeira vez um "blockbuster" seja uma das minhas séries favoritas da atualidade. É tão bom ver uma produção diferenciada na "cultura pop", ainda que o preço pago seja o mistério no centro da narrativa. E como comentei, eu não vou atrás de teorias. Mas nesse caso, as teorias vieram até mim, e acabou que eu não fiquei tão surpreso com esse twist. Além do que, o próprio roteiro já dava dicas de que isso iria acontecer.

Mas quer saber, que se foda. Esse episódio não é fodão por causa da "reviravolta", mas sim pela forma como foi feita. Foi digno de cinema, foi digno de literatura, foi digno da era de ouro da televisão. E não sei o resto de vocês, mas a minha parte favorita do episódio não foi nem saber que Bernard é o Arnold, mas sim a morte da Theresa, em uma série em que nem a morte é uma certeza (olha só, até rimou, acho que fui inspirado pela poesia que foi esse episódio).

Episodio 2x1 - Nota 7.5 2018-04-30 01:15:44

Eu tô curtindo essa vibe "Jurassic Park encontra Neuromancer". O caos, a descoberta da consciência do lado dos hosts, o jogo ficando mais real do lado dos humanos, Maeve em God Mode (saudades Person of Interest), a anti-heroína Dolores iniciando sua revolução.

Eu só achei a divisão das linhas temporais desnecessariamente confusa. Espero realmente que Lisa, Nolan e companhia não se apoiem demais nesses joguinhos de quebra-cabeça, porque uma série do nível de Westworld não precisa disso.

Episodio 2x2 - Nota 9.5 2018-04-30 03:21:31

Uma coisa que eu achava incrível em Person of Interest era como a série conseguia pegar conceitos sci-fi (das leis da robótica ao cyberpunk gibsoniano, passando por psico-história, teoria da simulação, crime de pensamento, e por aí vai) e transformar em algo palpável, verossímil, real, possível de acontecer. Mr Robot tentou bonito, mas nenhuma outra obra do meio audiovisual conseguiu representar tão bem a real essência daquela famosa frase de William Gibson, "the future is already here. It's just not very evenly distributed". A primeira temporada de Westworld foi um tanto distante da série anterior de Nolan que eu achei que ele não conseguiria repetir (ao menos em parte) o que ele fez em POI. Até esse episódio.

Mas eis que ele entrega uma analogia GENIAL com o escândalo Facebook-Cambridge Analytica. Mais do que isso: se na primeira temporada o parque era uma metáfora para os jogos de vídeo-game, agora Westworld parece mais interessada em brincar com o conceito de internet. É quase uma releitura de Neuromancer no universo de Jurassic Park (mas num futuro não tão distante do nosso presente). Isso é tão incrível.

Mas "Reunion" não é apenas um episódio com ideias interessantes. Ele também tem um texto primoroso (sem diálogos clichês), e a divisão das linhas temporais funcionam bem aqui, uma estrutura narrativa usada em prol da história (e não de joguinhos de quebra cabeça, como foi em boa parte da primeira temporada).

Esse é um dos grandes méritos desse episódio: não há uma cena descartável ou que depende de teorias para ser compreendida em sua totalidade. Até mesmo a busca do homem de preto ficou interessante, já que agora os "cenários" parecem ganhar vida. E que monólogo genial do personagem do Ed Harris, dialogando com religião, natureza humana e big data.

No mais, é uma ótima sacada da série revisitar as "narrativas" da primeira temporada sob diferentes pontos de vista (sejam através de flashbacks, mostrando a época da construção e/ou da transformação do parque em um modelo de negócio, ou no presente, no alvorecer da singularidade tecnológica).

Pra mim a melhor hora de Westworld até o momento. Game-changer, primorosa e genial. Pegando emprestado o slogan da HBO: It's not sci-fi, It's a Jonathan Nolan show.

Episodio 2x3 - Nota 7 2018-05-14 04:28:54

Cold open fodona. Mas fora isso, foi um episódio meio filler (talvez por não ter sido escrito por nenhum dos showrunners).

De qualquer forma, é notável o amadurecimento dramático da série. A primeira temporada foi importante pra estabelecer o universo de Westworld, mas um tanto fria do ponto de vista emocional, já que os personagens mais interessantes - os hosts - não tinham vida própria, talvez com exceção de Bernard.

Mas agora, com a chegada da singularidade tecnológica, tudo ficou mais interessante. Não apenas pelo risco real para os humanos, mas também porque agora o telespectador pode se importar mais com os androids. Um dos grandes momentos desse episódio foi Dolores cuidando de seu pai. Ela tem consciência de que aquilo tudo não passa de uma historinha, mas ela se apega a isso porque precisa. A mesma coisa vale para a busca de Maeve por sua filha. E existe algo mais humano que isso?!

Ainda não é uma The Leftovers, mas Evan Rachel Wood não mentiu quando disse que a primeira temporada foi apenas um prequel.

Episodio 2x4 - Nota 9 2018-05-14 16:06:43

Foda, foda, foda. Jonathan Nolan talvez seja o meu escritor favorito de ficção científica atualmente, não apenas da televisão, mas de todas as mídias, e aqui ele repete o que fez no 2x2, expandindo o universo de Westworld de uma forma genial. Os episódios escritos por ele são sempre excelentes.

E eu tô gostando que essa temporada parece não ser dependente de teorias. Era algo que The Leftovers fazia muito bem, e WW está seguindo a mesma linha: os quebra-cabeças e coisas do tipo estão ali para quem quiser se debruçar sobre eles, mas a série também funciona bem sem isso. Esse episódio, por exemplo, já deixou bem claro pra mim que a mente do Delos foi usada no Abernathy (a aparência, os monólogos shakespearianos, etc...), e eu achei isso uma puta sacada. O que explica também o interesse dos acionistas na mente do pai de Dolores. Pra quem não conhecia o trabalho de Nolan em POI e tinha um certo receio de Westworld se tornar uma nova Lost, "The Riddle of the Sphinx" (eu amo essas referências a mitologia grega) já trata de responder várias perguntas levantadas nos episódios anteriores.

Mas independentemente disso, o flashback se sustenta muito bem individualmente, revelando um pouco do passado do William (ficamos até sabendo da morte de Logan), e, principalmente, sobre o quão avançada tecnologicamente está a sociedade da época. Na primeira temporada, Ford chegou a comentar sobre essa técnica de reviver os mortos, e aqui vimos um pouco disso. Tão cyberpunk gibsoniano tudo isso.

(Um detalhe interessante também é que o flashback recicla o formato do piloto, mas agora com uma mente humana ao invés de uma mente artificial. Adorei essa rima visual e narrativa)

Lisa Joy mandou bem demais na sua estreia como diretora. Espero que volte a dirigir outros episódios, porque ela conseguiu explorar muito bem o potencial visual de WW aqui (melhor até que Nolan em "The Original").

E ao contrário da premiere, não achei a duração desse episódio tão exagerada. Acho que precisava ter mais de 1h, caso contrário não teria sido tão redondinho.

Episodio 2x5 - Nota 7 2018-05-27 10:18:05

Esse episódio tinha tudo pra ser o melhor da temporada, mas infelizmente acabou sendo um dos mais fracos.

Acho que desperdiçaram uma oportunidade enorme de expandir o universo da série. Jonathan Nolan já tinha feito algo parecido em Person of Interest (no genial "Relevance", também na 2T), o que aumentou as minhas expectativas, mas aqui o Shogun World acabou sendo só uma releitura do Westworld. Teve um momento que eu até pensei que entrariam numa vibe meio Fringe, mas nem isso.

De qualquer forma, acho que "Akane No Mai" valeu pela jornada da Maeve, de longe a personagem mais densa do show, e eu gostei também que fugiram daquela estrutura de "um filme de 10 partes" e abraçaram o formato episódico.

Eu só espero que explorem melhor esse lance da "consciência de colmeia" nos próximos episódios, porque parece que esse plot ficou meio jogado aqui. Mas é uma ideia bem interessante.

Episodio 2x6 - Nota 7 2018-05-29 09:37:10

"I've always seen the appeal of it. Life without consequences? That's what made it so fun when I was a kid. And that's why it's so sad that you're still obsessed with it now."

Episodio 2x7 - Nota 9 2018-06-11 01:47:43

"You made us in your image. Created us to look like you, feel like you, think like you, bleed like you, And here we are. Only we're so much more than you. And now it's you who want to become like us"

"Les Écorchés" é um episódio com o que Westworld tem de melhor - as reflexões filosóficas, o tom cyberpunk (The Cradle parece ter saído de um livro do William Gibson), o meta-universo, Anthony Hopkins - e também o que tem de pior: os joguinhos irritantes de quebra-cabeça (é futuro? não, agora é presente; pera aí, é passado) e as forçadas de barra (eu resolvi ativar minha suspensão de descrença naquela cena da explosão, mas foi um negócio bem Deus Ex Machina mesmo).

Mas acho que no final o saldo é bem positivo, principalmente porque é um episódio que abraça o DNA de Michael Crichton (ISSO É TÃO JURASSIC PARK), finalmente entregando o que a temporada vinha prometendo desde a premiere: the war. É um episódio que poderia muito bem ter sido digno de um 10 se não fossem as tentativas desesperadas de confundir o telespectador a cada cinco minutos, mas é uma hora excitante de televisão, do primeiro ao último minuto.

E claro que essa não é uma série slow-burning como The Americans ou mesmo Person of Interest (não vamos confundir encheção de linguiça com desenvolvimento lento), e esse "ponto de virada" já poderia ter acontecido há umas três semanas, mas é sempre admirável quando uma série consegue amarrar todos os seus núcleos como WW fez nesse episódio.

PS: A trilha das cenas de ação tiveram uma pegada bem If-Then-Else. Ramin Djawadi, você é um gênio.
PS': Eu adoro a performance da Tessa Thompson, tá merecendo ser lembrada no Emmy.

Episodio 2x8 - Nota 10 2018-06-11 17:23:47

Esse episódio me lembrou um texto que eu li da Emily Nussbaum antes da estreia da série. Ela escreve, descrevendo a cena em que Maeve acorda enquanto está sendo "consertada" e escapa: "Ela está tremendo, em pânico, nua, sem ideia de onde está ou do que está acontecendo - ela nunca viu nada além do cenário de fronteira - e, quando se depara com um depósito vazio, se vê olhando para centenas de cadáveres empilhados como troncos. Eles podem ser ciborgues, mas para ela e para nós eles parecem corpos em uma vala comum. Seus joelhos se dobram e ela é arrastada e colocada de volta na narrativa. Se toda a série fosse como aquela cena, tão desestabilizadora e bela quanto um pesadelo, poderia se tornar tão deslumbrante quanto The Leftovers ou Hannibal, o tipo de show ambicioso que empurra suas premissas para algo profundo. No entanto, Westworld é mais sobre o quão difícil é criar um show desse tipo."

Essa busca malsucedida pela transcendência resume bem o que foi grande parte da primeira metade dessa 2T de Westworld: Dolores parecia uma personagem de uma série-textão da Netflix com seu discurso de auto-ajuda; o Shogun World já funcionou melhor como uma jornada de autoconhecimento de Maeve, mas ainda era algo muito básico. Mas esse episódio, tão lírico como a melhor televisão pode ser, é um pequeno lembrete de que essa ainda é uma série que, nos seus momentos mais ricos, é diferente de tudo que existe na TV - e, como um bom órfão de shows como The Leftovers e Mad Men, eu suplico por mais momentos deslumbrantes como esse.

Não é exagero comparar com The Leftovers. Além do lirismo, "Kiksuya" também ecoa o outro grande drama de gênero da HBO por sua estrutura (e coragem) narrativa - character driven, episódico, centrado em um personagem secundário - e por enfim deixar os mistérios em um plano secundário. Finalmente os roteiristas estão mirando na série certa do Lindelof...

E como nos momentos mais poderosos de WW, é um episódio recheado de meta-comentário social: décadas antes de Dolores acordar - com a ajuda de Ford, no centro do parque principal, e se autoproclamar a primeira de uma espécie - Akecheta, membro de uma tribo indígena, já havia dado início a singularidade tecnológica. E agora deve ser ele o responsável por levar os hosts para o próximo capítulo da história da humanidade (mas não necessariamente a do Homo Sapiens).

Um dos grandes episódios de 2018, e o meu favorito da série até a data. Dan Dietz/Carly Wray e Zahn McClarnon merecem pelo menos uma lembrança no Emmy.

Episodio 2x10 - Nota 6 2018-06-29 09:49:58

Jonathan Nolan, o que está acontecendo com você?

Essa finale até apresenta algumas ideias interessantes - ainda que não suficientemente boas pra quem já assistiu POI - mas é simplesmente insustentável em termos narrativos. Como foi bem definido por um crítico da Vulture: "Not just in terms of certain logical points, but I’m wondering about the overall storytelling approach. What should feel like a cathartic release, or a dagger to the chest, instead largely feels like a dreamy act of treading water — one where I couldn’t help but find myself feeling disaffected by the majority of it. Perhaps it’s that the episode has no real dramatic pacing, rhythm, or crescendo, feeling hurried and yet static all at once, especially as it goes through a lot of purposeless cross-cutting. Or perhaps it’s just hard to watch an episode that’s constantly explaining itself as it goes along, just as it’s hard to watch an episode stretched out to 90 minutes be full of relatively dead air."

O arco da Dolores foi terrivelmente mal escrito (a impressão que fica é que não souberam o que fazer com a personagem depois que ela "acordou"), e foi justamente quem mais ganhou tempo de tela. Bernard é outro personagem que tinha bastante potencial e foi muito subaproveitado, tudo para aumentar o impacto de uma "reviravolta" no final. E o que dizer do sacrifício do Lee? Que negócio mais aleatório. Eu até achei que essa temporada fez um bom trabalho com a Maeve e com o William, mas isso só aumenta a minha frustração com o desfecho dos dois personagens. Thandie Newton deve voltar para a 3T, mas fica a sensação que toda a sua jornada foi por nada, tudo em prol de mais um shock value barato.

A cena pós-crédito é mais uma tentativa desesperada de chocar o telespectador a qualquer custo. Pode até funcionar com uma parte do público (e lendo os comentários aqui, parece que funcionou) mas uma série da ABC faz o mesmo. E bom, o personagem do MIB funcionou tão bem na 1T (e em boa parte da segunda) porque ele era um humano, subvertendo assim a perspectiva do filme. Fazer dele um host seria jogar fora tudo de bom que a série havia feito até aqui.

Pegando outro trecho da crítica da Vulture: "There are moments of great joy and catharsis in this show, but how can you make something by forever asking questions when all catharsis comes in the way we move through our own answers, for good or ill? It’s as if Westworld itself is built on a narrative dare, one of endless resets and stasis... And when it crashes, it’s because Westworld can’t seem to believe there are moments when the audience wouldn’t want the weight of more homework. Sometimes we just want to hear a great story."

Contar uma ótima história. Foi o que WW fez no 2x09 - principalmente com William, mas também com a Maeve (naquela cena com Ford) - mas jogaram todo esse desenvolvimento no lixo com essa season finale. Eu fiquei satisfeito com o final do Akecheta (apesar de ser uma pena que provavelmente não veremos mais esse personagem), mas diz muito sobre essa finale que o seu momento mais catártico tenha sido protagonizado por um personagem introduzido há apenas dois episódios.

Uma parte de mim quer acreditar que Westworld ainda pode se tornar, nas próximas temporadas, um genre show memorável como POI, Leftovers ou mesmo Legion. Mas eu estou começando a concordar com quem diz que essa é a nova Lost - uma série mediana, ocasionalmente boa, com ideias interessantes e alguns grandes momentos - mas que deixa a sensação de que poderia ser muito mais do que isso. É como Sean Collins escreveu no Twitter: "Westworld will never become the good show it could be, bacause it doesn't recognize the things about itself that are good".

Episodio 2x10 - Nota 6 2018-06-29 12:12:09

A comparação que eu fiz com Lost é mais no sentido de ser uma série com um bom argumento, mas que acabou se perdendo por focar demais em mistérios, entre outras coisas - ou pelo menos, acabou não sendo tão boa como poderia. Em The Leftovers, talvez diante de um público mais maduro e com mais liberdade criativa, eu acho que o Lindelof conseguiu traduzir suas boas ideias em uma dramaturgia poderosa (a segunda temporada, tematicamente muito próxima de Lost, é o ápice disso). Com Jonathan Nolan, curiosamente, aconteceu o inverso: Westworld falha onde Person of Interest acertou.

Mas claro, o contexto era bem diferente. Eu concordo sobre o fator inovação de Lost (talvez Twin Peaks tenha conseguido algo parecido no início dos anos 90 em termos de engajamento e na forma como moldou a relação público-show, mas Lost foi um fenômeno mais global). Westworld, por outro lado, vai ao ar na era do "pós-spoiler", um número muito maior de pessoas com acesso a internet e redes sociais...

Sobre o MIB, eu espero que você esteja certo. Essa também foi a minha primeira impressão, mas depois eu li algumas reviews, e alguns críticos entenderam que ele era um host - e então eu lembrei também do teste da Dolores. Mas enfim, independente dele ser um host ou não, eu achei esse final totalmente apelativo. A impressão que passa é que os roteiristas não têm confiança na história em que eles querem contar, e por isso ficam jogando um twist atrás de outro pra disfarçar os problemas da série. É uma pena, porque o 2x08 foi uma obra-prima. Se toda a série fosse como aquele episódio, poderia se tornar um show tão memorável quanto The Leftovers. BUT...

E sim, uma das melhores coisas da primeira temporada foi essa mudança de perspectiva em relação ao filme: os hosts viraram os protagonistas, enquanto que o MIB - possivelmente o personagem mais desprezível - foi transformado em um visitante. Como eu comentei acima, fazer dele um anfitrião seria jogar tudo isso no lixo. E tem outra coisa também, o 2x09 só funcionou tão bem porque ele era um humano - os joguinhos com Ford como uma distração, o parque como uma metáfora, um lugar aparentemente sem consequências para onde ele podia fugir e esquecer de todos os danos que causou no "mundo real" - tudo isso se perderia caso ele fosse um host.


Obs:Precisa de mais de 5 comentarios para aparecer o icone de livro no seu perfil. Colaboradores tem infinitos icones de livrinhos, nao colaboradores tem 5 icones de livrinho do perfil

Gustavo Marques

Copyright© 2023 Banco de Séries - Todos os direitos reservados
Índice de Séries A-Z | Contatos: | DMCA | Privacy Policy
Pedidos de Novas Séries