Escrito por: Thalita Martins
Mais uma estreia da Apple TV+, Physical foi lançada no dia 18 de junho com episódio triplo, o que é comum para o canal. Primeiramente, gostaria aconselhá-los a não verem apenas o piloto, mas sim aos três episódios juntos. Cada episódio possui 30 minutos, o que funcionou muito bem para a série e tornou fácil ver tudo. Só não abandone unicamente pelo piloto. Não que o piloto seja ruim, mas também não é completo, a série foi desenhada para ser apresentada em três episódios que, em minha opinião, valem muito a pena.
Eu poderia apostar que 99% das pessoas que se interessaram por Physical, o fizeram por causa de Rose Byrne (para alguns também pode ter sido Rory Scovel). A série se passa na década de 80 e é sobre a vida de Sheila, uma dona de casa que precisa lidar com diversos conflitos internos e externos. A ambientação dos anos 80 me envolve demais, eu sempre me apaixono por esse cenário. Os figurinos, os cabelos e a fotografia meio fosca são tudo para mim.
Porém, preciso dizer que a série não é leve – apesar de, à primeira vista, parecer. Destaco aqui o quanto fiquei sufocada ao acompanhar a Sheila, eu senti a agonia da personagem, todos os conflitos que giram em torno da sua vida, suas inseguranças e a forma que as pessoas próximas a ela a tratam. Se padrões de beleza são cruéis hoje, imagine há 40 anos. Sheila tem bulimia, então vemos a personagem ingerir uma grande quantidade de comida e, após isso, induzir o vômito. Não são cenas fáceis de ver, principalmente para quem já passou pelo mesmo. Por ter esse tipo de gatilho, precisamos assistir com cautela. Principalmente porque muitas e muitos de nós nos identificamos com a personagem em diversos momentos.
Sheila se sente insuficiente, feia, insegura. Largou uma vida acadêmica promissora (sabemos disso por um diálogo específico que ocorre) para ser dona de casa em tempo integral. Era uma jovem envolvida em debates políticos, debates esses que foram esquecidos em sua fase mais adulta. Come para se aliviar e vomita para não engordar. Apesar de ser bastante magra, sente-se acima do peso. Vive em um ciclo vicioso e, sempre que o repete, promete a si mesma que aquela foi a última vez. O fato de podermos ouvir os pensamentos da personagem faz a experiência muito mais completa aos meus olhos: precisamos conhecer profundamente a Sheila para compreender a proposta da série, e não há nada mais íntimo que os pensamentos de alguém. Nesse momento, conhecemos a Sheila tão bem quanto ela mesma se conhece, a conhecemos melhor que qualquer outra pessoa ao seu redor, mesmo aquelas que a conhecem por anos.
E claro, seus pensamentos incomodam. A maior parte são autodepreciativos, muitos são maus. Mas a Sheila, neste momento, não tem outra coisa para oferecer, ela se odeia demais para conseguir dar outra coisa senão desdém e falsidade. Então, quando a vemos encontrar a aeróbica, percebemos uma mudança em seu olhar. O balé para ela era uma forma de “manter a forma”, podemos entender isso quando ela nos confidencia que “precisa ir” às aulas. Com a aeróbica, ela QUER ir, existe uma diferença enorme. Talvez o interesse em torno da nova prática esteja associado à professora que ela demonstrou admirar, ou talvez tenha começado com seu anseio em manter o peso, mas o que a série se encaminha para nos apresentar, ainda de forma muito sutil, é que acompanharemos uma mulher encontrando um caminho pelo qual verdadeiramente queira trilhar. No momento da aeróbica vimos a Sheila, pela primeira vez, se defender de seus próprios pensamentos.
A série não é sobre uma mulher frustrada que encontrou um hobby, mas sim sobre uma mulher que, por meio de uma verdadeira paixão, passa a ressignificar sua vida e mudar a forma que se enxerga – consequentemente modificando a forma que enxergará os outros. Todos nós temos paixões que podem mudar a nossa vida.
Para quem gosta de dramas intensos, Physical é uma ótima pedida.
Minha nota: 8.50
Nota no BdS: 7.63 (certeza que ainda vai subir bastante).