Escrito por: Pedro Rubens
Não é novidade para ninguém que a idealização de universos expandidos podem ser uma das maiores (e melhores) apostas para o futuro da TV, streaming e cinema. Investir em séries, filmes, livros e HQ’s contando uma história sequencial faz com que o público torne-se “refém” e tenha interesse, mesmo que gerado unicamente pela curiosidade, em consumir aqueles produtos.
Peacemaker teve a confirmação da primeira temporada logo após o lançamento do filme Suicide Squad, ambas produções assinadas pelo diretor e roteirista James Gunn. Abrigada na HBO Max, a série segue os eventos logo após o término do filme e nos apresenta, com riqueza de detalhes, quem é o protagonista, seus traumas da infância e quem ele se tornou.
Sem medo de ser caricata, a série opta por um humor ainda mais escancarado que o filme, no qual o protagonista teve sua estreia. Aqui há acidez em absolutamente todas as falas, desde os diálogos mais sérios e dramáticos até as piadas com tons pejorativos, mas que de forma clara e objetiva funcionam com um único propósito: se autossabotar.
O discurso promovido na série, as pautas levantadas e os temas que são colocados em xeque se apresentam de forma cômica única e exclusivamente com a intenção de “rir das próprias mazelas”. A série não se isenta de tocar em feridas sociais e faz isso criticando a si própria e a todos que defendem aquelas atrocidades, da homofobia à pedofilia, da utilização de criminosos em eventos políticos à supremacia branca: tudo é criticado, mesmo que de forma engraçada.
O tom da série talvez seja uma renovação para DC, que sempre foi identificada pelo tom sombrio das suas produções televisivas ou cinematográficas. Isso não é de todo ruim, mas o que não dá é pra seguir insistindo em uma série de repetições que, até muito recentemente, não estavam dando tão certo assim.
O que faz de Peacemaker ser singular e conseguir transmitir uma mensagem muito pessoal e íntima é exatamente o medo de não ser quem é e encarar todas as consequências disso. Afinal, investir em uma série spin-off de um personagem que ficou conhecido por aparecer de cueca de copinho poderia parecer ser um tiro no próprio pé, mas consolidou-se como um dos maiores acertos do DCEU.
Apostar em um time recrutado para trabalhar com o protagonista na caça às Borboletas, como são chamados os antagonistas da temporada, é, de longe, uma das melhores coisas de se ver em tela. Quando estão juntos o caos reina e, curiosamente, ainda assim conseguem superar as diferenças e trabalhar em equipe.
Mas Peacemaker não fica apenas no marasmo caricato e quando sai desse lugar investe em cenários pesados, como o arco do Dragão Branco, pai do protagonista e supremacista branco. Não se engane, a série não trata isso de forma leve e nem tampouco subjetiva: o que tiver que ser dito, será dito, porém as consequências também virão.
A carga de pautas que transpassam a ficção e desembocam nos dias atuais é tão grande que, não fosse pela ameaça alienígena, a série poderia muito bem se encaixar no mundo real e o protagonista ser mais um daqueles lunáticos que saem por aí fantasiados e dizendo que são heróis. No limiar entre ficção e realidade, a série sabe se posicionar e mandar um recado, inclusive, para o próprio criador do show.
Peacemaker foi e continuará sendo (espero) um dos maiores acertos do Universo Expandido da DC. Mesmo com poucas pontas soltas para a próxima temporada, sem saber se o cameo da season finale poderá ter influência ou não no futuro da série, o que nos resta é confiar que veremos muitos outros ótimos episódios do homem que usa um capacete metálico, tem uma águia como seu melhor amigo e que dança muito bem, vide a melhor abertura de série do ano.
Nota: 8,81
Para que não assistiu o filme (no caso, eu), terá prejuízo para entender o desenrolar da série ?
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