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The Leftovers By Gustavo Marques





Episodio 2x1 - Nota 10 2017-06-05 00:08:26

Broken hearts and shattered lives like wreckage on the ground
The memories of those poor souls who were lost but never found
They shook their fists and cursed the sky demanding explanation
No answers came, no soothing words just silence and frustration
But in Jarden Town the sun shone bright - a miracle
The light of love poored down, it's a miracle
Our hearts are pure we knew for sure a miracle
That god had spared our town

O conceito da cidade de Jarden, uma clara referência ao Jardim do Éden, é genial. Uma cidade que não foi afetada pela Partida Repentina, onde não há Remanescentes Culpados, onde as famílias não foram destruídas. Mas melhor ainda foi a desconstrução desse "paraíso" ao longo do episódio, que começa com a família Murphy toda feliz e termina desse jeito, mostrando que não é bem assim.

E interessante que até as bizarrices enriquecem esse universo mitológico, nada ali é por acaso. Até mesmo o título do episódio, que pode ser traduzido como "centro do mundo" ou "pilar do mundo", um lugar que - na mitologia - é a conexão entre céu e terra, onde as quatro direções da bússola se encontram.

Mas nunca esquecendo qual é o foco narrativo: o drama dos personagens. Simplesmente um dos melhores e mais corajosos inícios de temporada que eu já vi. E uma imersão sociocultural tão poderosa quanto o piloto de The Wire/Mad Men. "Axis Mundi" é tudo que eu esperava que Twin Peaks fosse.

PS: Séries que fazem da cidade uma personagem < 3

Episodio 3x1 - Nota 9 2017-04-18 12:00:59

Como eu suspeitava, não foi por acaso que essa premiere foi ao ar no domingo de páscoa. Eu te amo, HBO. É tão genial a forma como The Leftovers explora conceitos e histórias bíblicas sem ficar parecendo uma ficção religiosa. O grande acerto de Tom Perrotta/Lindelof foi focar mais nas pessoas do que no evento.

É algo similar com o que Person of Interest fazia com a mitologia grega (e creio que Westworld seguirá o mesmo caminho), acho que a única série que também conseguiu criar algo tão bem executado nesse sentido (BSG e Lost - do mesmo Lindelof - tentaram, mas caíram nessa armadilha). E se a gente parar para refletir, o conceito do "arrebatamento" tem suas similaridades com o da "singularidade tecnológica".

Mas o que TL faz é ainda mais notável, porque diferentemente do politeísmo, o cristianismo tem uma presença muito forte na cultura ocidental, não apenas como literatura, mas também de uma forma mais espiritual. A tragédia de Sófocles, Eurípides e Ésquilo foram algumas das principais influências de The Wire e Breaking Bad, mas talvez The Leftovers seja a série dessa "era de ouro da TV" que melhor reproduza a essência do teatro grego - base de toda a nossa dramaturgia - em um contexto mais atual, tal como "o livro de Kevin" é em relação ao "novo testamento".

E até o mistério é genial, justamente por brincar com essas referências históricas, culturais e literárias. Não é algo apenas para prender o público, como a gente vê muito por aí. Além do que, é um recurso narrativo que aumenta o nível de "realismo". Afinal, se de fato ocorresse um evento apocalíptico desse porte, é plausível pensar que todos os questionamentos e crenças das "pessoas que sobraram" não passariam de mera especulação, que é o que a série mostra, através do drama dos seus personagens. The Leftovers não precisa de respostas, e é aí que está o seu brilhantismo, ou pelo menos parte dele.

Episodio 3x3 - Nota 9.5 2017-05-11 18:26:17

As referências a International Assassin, holy shit. Que releitura fantástica do episódio do hotel, agora sob a perspectiva do Kevin Sr, naquela conversa com o xamã. Eu amo a mitologia de The Leftovers. E que aula de introdução à cultura dos aborígenes, com direito a uma sátira genial sobre o homem branco e o indígena.

E o que dizer desse monólogo da Grace Playford no final, UAU, com sobrenome que provavelmente faz uma analogia a Thomas Playford, líder do millerismo na Austrália, movimento que já foi o “tema” do prólogo da season premiere. QUE EPISÓDIO. QUE SÉRIE.

Episodio 3x4 - Nota 10 2017-05-12 12:45:31

UAU, outro episódio excelente. Aliás, excelente não, perfeito. Arrisco dizer que a melhor hora de televisão que assisto esse ano até aqui, e um dos melhores da série. Roteiro redondinho, com o início do episódio em perfeita harmonia com o final. Da abertura com "This Love is Over", anunciando o que viria, ao encerramento ao som de "Take on Me"; da separação de Kevin e Nora no aeroporto a discussão entre os dois culminando no rompimento; de Nora não vendo Kevin como um parceiro na hora de passar o dinheiro pelo scanner a Kevin inconscientemente recorrendo a Laurie em um momento de esquizofrenia.

E claro, todo o decorrer do episódio, com os dois seguindo caminhos opostos, tudo brilhantemente desenvolvido para chegar nesse final, com Kevin não querendo admitir estar surtando mais uma vez (ou não), com Nora não querendo admitir - acreditando ou não - que estaria disposta a passar pelo experimento. O momento inevitável do desabafo chegou, e como a música de abertura já anunciava, "This Love is Over".

E esse episódio da separação do casal protagonista no meio da temporada mostra que Lindelof e Tom Perrotta tem total controle da narrativa. Pode até ser que eu não goste do conceito do final da série (até porque, as expectativas são altíssimas, considerando que TL já é uma das minhas obras de ficção favoritas de sempre), mas duvido que não será narrativamente satisfatório. Sinto que G'Day Melbourne foi praticamente uma primeira parte da series finale, e que The Leftovers terá uma sequência final tão espetacular quanto a de Sopranos.

Episodio 3x4 - Nota 10 2017-05-12 13:02:19

As críticas do Matt Fowler são sempre muito boas

Episodio 3x7 - Nota 9.5 2017-05-30 14:40:23

International Assassin era sobre a viagem ao psicológico de Kevin, mas era também sobre mitologia, sobre a construção de um universo novo para o telespectador. Universo que é expandido nesse episódio, como tem sido em toda a temporada, com referências que vão desde o protocolo Fisher (fazendo um paralelo com a mulher latina que, no 2x08, tenta entrar no hotel para realizar um transplante de coração), até a volta de“Deus”, guiando novamente Kevin, após ser morto pelo leão no 3x05, quando ele afirma que foi o irmão gêmeo de Jesus que ressuscitou. E aí está outra grande sacada do episódio, mostrar Kevin - possível Messias - como o “homem mais poderoso do mundo”, mas sob uma faceta mais humana, o de presidente dos EUA, que pode ser o responsável pela destruição do mundo, fazendo com que The Most Powerful Man in the World seja também um belíssimo de um comentário político.

Mas por mais rica que seja, a mitologia de TL é um elemento secundário, e talvez por isso funcione tão bem. Esse é o grande trunfo da série, funcionar tão bem como uma ficção de gênero e como um drama. E a gente vê isso quando todas as missões de Kevin, tal como aconteceu com Matt no 3x05, dizem mais sobre ele do que sobre a missão em si. Não importa se essa viagem foi psicológica ou se Kevin foi mesmo para outro mundo, não importa se ele é ou não the new Jesus, e eu amo a forma como a narrativa não confirma nem nega nada disso. LET THE MYSTERY BE.

E que cena genial essa com os dois Kevins, com Harvey se sacrificando para que Garvey possa acordar. Não apenas literalmente, como nas outras vezes. Mas percebendo que talvez tenha desperdiçado a última chance de se conectar com alguém. E a sugestão de Roger Fisher pode não ter impedido uma guerra nuclear, mas com certeza, eternizada pelo texto de Lindelof, tem seu lugar na história da dramaturgia.

E quando eu digo que The Leftovers é a herdeira espiritual de Sopranos (porém, com a sensibilidade de uma Rectify), não é somente pelo prisma psicológico e pelos simbolismos, mas também pela profundidade dada ao casal protagonista (mesmo com Nora quase não aparecendo, como foi com Kevin no 3x02), de uma forma que eu só tinha visto TS fazer, com Tony e Carmela.

Não acho que Powerful Man seja uma hora de televisão tão primorosa e tão icônica quanto International Assassin (mas tudo bem, porque podemos dizer isso de poucos episódios), mesmo tendo a melhor cena da série, mas é um capítulo grandioso porque representa tudo que a série tem de melhor. Se International Assassin é Lindelof evocando Sopranos e Dante Alighieri, Powerful Man é The Leftovers sendo The Leftovers. Uma série humana, como nessa cena final com nossos candidatos a messias, mas também estranha, non-sense, como um evento como um possível Arrebatamento parece ser. É sobre as pessoas que ficaram, mas a gente não pode esquecer o quão bizarro esse acontecimento é. Lindelof e Perrotta perceberam isso na virada da primeira para a segunda temporada. E ali nasceu uma das obras mais grandiosas da história da humanidade..

Episodio 3x7 - Nota 9.5 2017-05-30 16:07:12

Sobre o protocolo Fisher, caso não conheçam a história:

"My suggestion was quite simple: Put that needed code number in a little capsule, and then implant that capsule right next to the heart of a volunteer. The volunteer would carry with him a big, heavy butcher knife as he accompanied the President. If ever the President wanted to fire nuclear weapons, the only way he could do so would be for him first, with his own hands, to kill one human being. The President says, “George, I’m sorry but tens of millions must die.” He has to look at someone and realize what death is—what an innocent death is. Blood on the White House carpet. It’s reality brought home"

Roger Fisher, Bulletin of the Atomic Scientists, March 1981

Episodio 3x8 - Nota 9 2017-06-05 21:47:37

Por um momento eu cheguei a pensar que Lindelof daria uma de Ronald Moore. Não, ele não vai entregar uma revelação incoerente com a premissa justamente na series finale, depois de duas temporadas irretocáveis. Mas há sempre aquele receio por ser o mesmo showrunner de Lost. E então veio aquela cena do Kevin - o bom, velho e perturbado Kevin que a gente conhece - e eu até esbocei um sorriso. Ufa, The Leftovers continua sendo a melhor série da década.

E que ótima sacada aquela cena da Nora descrevendo sua suposta ida a um "outro plano". Não faria sentido mostrar ela no universo do hotel, porque ela não tem uma mente tão perturbada como a do Kevin, ou seja, não teríamos a dualidade (que, entre outras coisas, foi o que fez que International Assassin e Powerful Man funcionassem tão bem). E QUE CENA. Mais uma performance incrível de Carrie Coon (um incentivo para insistir nessa temporada de Fargo), lembrando até aquele monólogo de meia hora da Laurie Metcalf em Horace and Pete.

Eu particularmente acho que ela não foi a lugar nenhum, e de certo modo, eu até prefiro acreditar nisso, porque é o mais coerente com a jornada da série. As respostas não apenas são desnecessárias, como a ausência delas é justamente um dos elementos que fazem com que TL seja tão genial. E até por isso, mesmo que o conceito de “mundo invertido” seja interessante, essa ambiguidade poderia soar como uma forma de agradar uma parcela do público que quer respostas sobre o evento (se é que esses chegaram até aqui). Mas o que acontece? O arco dramático da Nora é tão bem construído que, mais do que qualquer dualidade, partindo do pressuposto de que o seu relato é inventado, é uma “mentira” não apenas dela para o Kevin, mas para si mesma, porque como a própria Nora comentou em outro momento, ela precisa desse "encerramento". Um excelente final para uma personagem incrível.

E descobrimos que a Laurie, afinal de contas, não se suicidou. Ao mesmo tempo em que tira um pouco do impacto de Certified, é interessante que essa revelação traz uma ambiguidade maior para Powerful Man, que até então, parecia ser muito mais uma fantasia do Kevin, já que - entre outras coisas - ele não encontrou sua ex-mulher lá.

Adeus The Leftovers, foi uma honra ter acompanhado semana/semana pelo menos a última temporada dessa obra que será estudada e reverenciada por anos. E seja bem-vinda ao lugar mais alto do panteão televisivo, juntamente com The Wire, Sopranos, Mad Men e Deadwood.

PS: The Leftovers não precisa do Emmy, é o Emmy que precisa de The Leftovers.
PS': Kevin e Nora maior casal da história da TV
PS": R.I.P. Matt
PS"': Let The Mystery Be

Episodio 3x8 - Nota 9 2017-06-05 22:07:12

Eu acho a dramaturgia de The Americans tão boa quanto a de The Leftovers, mas além de ser uma experiência mais transcendente (como Rectify também era, mas acho TL mais "completa", digamos), o drama da HBO tem elementos secundários que fazem com que, artisticamente, seja uma das obras mais ricas já feitas, não apenas da televisão.

Mas tá vindo aí série nova do David Simon, criador de The Wire, que é a única produção televisiva que - no conjunto da obra - eu diria que supera Leftovers. Então acho que ficaremos apenas alguns meses "órfãos" de uma obra-prima televisiva.


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Gustavo Marques

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