Escrito por: Edson Rafael
Quem for procurar o significado do verbete “refúgio” (do latim, refugium) em português no dicionário Michaelis, pode chegar a três significados: 1. Lugar seguro para onde alguém vai para não se expor à situação de perigo; abrigo; esconderijo; 2. Amparo ou proteção que se pede a alguém; 3. Esconderijo de pessoa fugitiva da justiça. No budismo, tomar refúgio é algo muito sério, quer dizer que você toma a vida do Buda, seus ensinamentos, sua comunidade, como lugares onde possa se aprimorar. E traço aqui algumas formas que as personagens tentam se refugiar, abrir caminho, tomar espaço, pertencer.
Na série, podemos acompanhar a vida de três protagonistas: Andy, Rafaela e León, cada um com sua história a ser desenvolvida ao longo da temporada, mas podemos vislumbrar o caminho de cada um no primeiro episódio. Andy, uma pessoa considerada não-binária, tenta arranjar um emprego formal mas sem desfazer-se das características físicas que são válidas como sua personalidade individual. Claro que encontra desafios à sua frente e pessoas que não entendem seu jeito de ser. Rafaela, mãe solo de um uma criança com não mais de 3 anos de idade, tenta sobreviver como pode, um bico aqui outro acolá, e a ajuda de sua mãe. León, fugido de casa para não ter que lidar com o casamento de sua mãe com seu padrasto, vai à Buenos Aires morar com o tio, dono de uma imobiliária, que vive em uma casa em péssimo estado até mesmo de limpeza. E é neste ambiente caótico que os antigos três amigos de infância irão se reencontrar.
Andy logo percebe, através de suas redes sociais, o retorno de Léon, depois de oito anos no interior, para a capital argentina e já quer reencontrar o velho amigo, convidando-o para uma batalha de rap que vai rolar na cidade. E é aqui que temos o primeiro vislumbre de por onde a série girará em torno. A fascinação de Léon é escancarada e ele parece ter encontrado seu caminho. É por esta estrada que ele quer trilhar. Podemos considerar amor à primeira vista? Hahahaha Um menino apaixonado por batalha de rap, algo que pode ter como seu lugar no mundo?
Neste mesmo evento, Rafaela reencontra o pai de seu filho, cobra presença paterna e, como já estamos acostumados pela nossa sociedade extremamente patriarcal, ele acha que mandar dinheiro para o filho, quando pode, é ajuda suficiente. O fato é que ele é um rapper famoso nessas batalhas e está lá para competir. Enquanto tudo isso rola, Andy fotografa as batalhas e vê surgir um encanto pelo León e sua empolgação ao assistir algo que nunca havia presenciado, algo que sente que pode ser seu lugar.
No meio tempo, cada um tenta lidar com suas responsabilidades: Andy em uma família rica e, aparentemente, tradicional; Rafaela, que tenta conseguir meios de trazer dinheiro para casa, como app de delivery a qual é excluída por ter uma péssima reputação de entrega, e criar seu filho, junto com a ajuda de sua mãe; León com um trabalho na imobiliária do tio, levando possíveis clientes para conhecer locações. Os três vão se aproximando e León vê-se descobrindo, com a ajuda de Rafaela que adora batalhas de rap, um amante desse discurso cheio de rimas e poesias. É apresentado por Andy a um grupo de rappers, se envolve nos enlaces que as palavras são capazes de fazer e arrisca perder seu emprego na imobiliária. Venhamos e convenhamos, sem responsabilidade com o trabalho, como continuar na empresa? E é o que acontece. Seu tio, além de o despedir, o manda embora de casa. Sem lugar para ir, León pede “asilo” a Andy que, envolto em um sentimento platônico, acolhe o amigo.
No primeiro HBO Max Original argentino, refugiar-se é colocado em questão. E não é por acaso que a série se chama Días de Gallos, ou, como chegou por nossas terras, Rap na Rinha. Rinha, se não sabeis vós, trata-se de uma briga de galos, remetendo ao título da série em espanhol, e que é tomado por uma competição de rappers. Apresentado como luta pela sobrevivência, luta pelo direito de ser quem se é, luta por um lugar ao sol. Se quiser saber como essa história continua e onde vai dar, confira os dez episódios da primeira temporada disponíveis no HBO Max. Talvez você se surpreenda.
P.S.: A palavra RAP vem do inglês, “Rhythm and Poetry”, surgiu na Jamaica e migrou para os EUA no início da década de 1970 com os jovens que procuravam um melhor modo de vida, visto que seu país estava assolado por uma crise econômica e social. Foi assim que o Rap foi introduzido pelos bairros de Nova York, espalhado pelo mundo, e visto hoje como temática de uma série argentina.
Nota: 7,5