Escrito por: Eric Leuthier
De alguns poucos anos para cá, é muito nítido o movimento que a Netflix tem feito para enriquecer seu catálogo com produções fora do eixo USA-UK, dando amplitude maior de voz a outras nacionalidades e culturas que, quando são exploradas, o fazem de forma extremamente superficial ou mesmo caricata. Felizmente com Maya and the Three as coisas não são bem assim.
A nova série animada da Tudum é uma produção mexicana comandada por Jorge Gutierrez, vencedor dos prêmios Emmy e Annie com sua obra “El Tigre: The Adventures of Manny Rivera'' e também indicado ao Globo de Ouro com o filme “The Book of Life”. O que os três têm em comum? Respondo: a abordagem direta sobre a cultura e as tradições mexicanas.
Talvez o contato mais próximo que a gente teve com parte da história mexicana tenha sido ainda durante os anos de escola, quando sofremos para conhecer e decorar as características particulares das mais famosas civilizações pré-colombianas: incas, maias e astecas. Nossa tendência é colocar todas no mesmo bolo, mas não se deixe enganar, há sim diferenças em cada uma delas e só o piloto de Maya and the Three usa e abusa de muitas referências à civilização Asteca, que influenciou predominantemente o México e gerou tradições que duram de seu auge até hoje.
A história do piloto segue a vida de Maya, uma adolescente rebelde (a redundância) que durante o seu Quinceañera recebe a visita inesperada de um desconhecido e acaba descobrindo um pouco sobre sua verdadeira linhagem. O piloto em si não entrega muito o rumo que a série vai seguir (isso fica mais claro a partir do segundo episódio), mas funciona como uma bela e eficiente introdução ao novo universo de Maya. Devo ressaltar que aqui a série já ganha pontos extras nesse quesito que é tão básico.
Sempre foi muito comum vermos narrativas de civilizações antigas centralizadas predominantemente na Europa, seja com os castelos medievais e seus reinos ou com as mitologias greco-romanas e, em escala menor, nórdicas. Todo mundo já é familiarizado com Thor, Zeus, Hades e etc… mas peça pra alguém citar um deus asteca e ouça o canto dos grilos. Por isso Maya é importante, ela começa o episódio já com os dois pés na porta, dando uma voadora nas pedras cinzentas de Grayskull e servindo uma surra de referências à cultura mexicana, com direito à citação de profecias antigas da civilização asteca e uma simbologia que até hoje se encontra presente na bandeira no México. Como é bom conhecer algo novo! Como é bom ver novas abordagens, explorar outros elementos, outras simbologias.
No aspecto técnico, Maya dá um espetáculo de cores, referências e animações. Como um bom fã da franquia Tales of Arcadia (Guillermo del Toro), não pude deixar de notar a semelhança na qualidade dos movimentos e também nos traços de alguns de seus personagens, talvez justamente por também lidar com aspectos mágicos e fantasiosos em sua narrativa. Mas algo que Maya fez com maestria e ganhou minha atenção foi o modo como a animação 3D abre espaço para cortes rápidos de cenas em 2D, utilizando o estilo papercraft para explicar e contextualizar alguns pontos do episódio. Esse dinamismo ainda é completado pelo estilo “gamificado” de introduzir alguns personagens lá nos últimos minutos, semelhante ao que a gente vê em produções como “Scott Pilgrim Contra o Mundo”.
Mas não é só visualmente que Maya te ganha. O enredo também é na medida certa. Maya não é extremamente infantil, mas também não é animação cult para adultos refletirem sobre a existencialidade do farfalhar das asas de uma águia enquanto segura uma cobra pelo bico em cima de um cacto que se ergueu no meio de um lago. Os personagens são extremamente carismáticos e entregam humor e mistério no ponto certo. Talvez a única personagem que deixa a desejar NO PILOTO seja a própria Maya. Mas, como eu disse anteriormente, a história da protagonista e o rumo da série são ditados primordialmente no segundo episódio, então dá pra passar um pano.
Todo esse conjunto de qualidade narrativa aliada ao espetáculo visual e cultural que a série traz faz de Maya uma das melhores séries animadas da Netflix lançadas recentemente. Eu sei muito bem que a série não tenta inventar a roda, mas só o fato de ver a história da heroína em construção se passando em um universo pouco explorado vale a pena. Se com Raya conhecemos e exaltamos a cultura oriental, com Maya vamos explorar e enaltecer as civilizações históricas de parte das Américas.
Nota: 9,0
Pega as refs:
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Ja tinha visto o piloto e tinha percebido algumas coisas mas amei a lista com as curiosidades, parabens pelo texto!!
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fantastico
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