Escrito por: Pedro Rubens
Toda obra de ficção tem um pé na realidade. É impossível qualquer conteúdo fictício ser gerado sem que tenha bebido de águas concretas. Por mais fantasioso que uma série ou filme seja, ainda assim, ela tem como base histórias reais e, por muitas vezes, é isso que faz o público abraçar a ideia.
This Is Us, série da NBC, chegou ao fim da sua jornada e nos apresentou o desfecho da família Pearson. Os arcos de Rebecca, Miguel, Kevin, Kate e Randall foram concluídos e de forma satisfatória nos despedimos de uma família que, com certeza, nos adotou e acolheu por alguns anos.
Conduzir uma história que intercala passado, presente e futuro por seis temporadas, abrindo e fechando arcos, introduzindo personagens, fazendo críticas sociais e ainda assim fazer tudo isso com primazia é algo digno de aplausos. This Is Us consegue esse feito e finalizou seu último ano com chave de ouro!
Em absolutamente todos os episódios da última temporada havia uma aura de despedida. Mesmo quando certos núcleos ainda estavam em desenvolvimento ficava evidente que o caminho já estava mais próximo da placa de “Fim” e tudo soava como um “adeus”. Amarrar as pontas soltas de uma quinta temporada que não concluiu nada e só prosseguiu na história parecia ser trabalho difícil, exceto para Dan Fogelman que provou de todas as formas seu total domínio acerca da sua criação.
Sem apelação nenhuma, This Is Us toca no emocional do público e apresenta a vida como ela de fato é. Sem filtro e sem medo de ser pedante, a série entrega um dos roteiros mais sinceros, honestos e bem trabalhados que já pude assistir.
Deixando de lado qualquer esforço e agindo naturalmente, a produção navega por águas turbulentas, como no processo de descoberta até o fim do Alzheimer de Rebecca, a matriarca da família Pearson. Da mesma forma, as questões raciais e psicológicas vividas por Randall, a abordagem sobre obesidade e o senso de incapacidade de Kate, bem como o alcoolismo e a irresponsabilidade de Kevin, tudo isso entrelaçado por Jack e sua personificação de “ser humano perfeito”.
Os dilemas dos personagens ressoam em nós e tocam em feridas que por diversas vezes nos fazem pensar em situações que não tínhamos percebido até então. A estrutura familiar dos Pearsons parece ser perfeita e nada nem ninguém seria capaz de desfazê-la, mas a verdade é que diante do luto e da efemeridade da vida os personagens mostraram quem são e assim nos permitiram enxergar quem de fato nós somos.
A possibilidade de um recomeço a partir da dor da perda é, para muitos, algo ainda utópico. Relacionar-se com a velhice, a morte e a vida é algo que nós constantemente estamos fazendo e na maioria das vezes estamos no modo automático, só seguindo o ritmo. This Is Us nos mostra isso mesmo sendo uma série de ficção.
Dentre tantos discursos memoráveis e que trouxeram inúmeras lágrimas ao público, ouso citar uma frase de Will que, sem sombra de dúvidas, vai me emocionar por longos anos:
“Na minha visão, se algo te deixa triste quando acaba é porque deve ter sido maravilhoso quando estava acontecendo”
A verdade é que nenhum de nós está preparado para ver a vida passar e dizer adeus, seja na vida real ou na ficção. Despedir-se dos Pearsons é algo que ainda emociona, entristece e às vezes até dói, mas isso acontece porque a jornada valeu a pena.
Deixo aqui minha gratidão a Dan Fogelman por compartilhar com o mundo uma narrativa tão sensível e repleta de humanidade. Precisamos de mais histórias assim!
Nota: 9.06
Que texto!
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